CHEGA DE RESERVAS MENTAIS


Vai ser difícil. Já se conheceram inúmeras situações anormais no passado. Desde os tempos coloniais, circulando pelo Império e atingindo a República. Conflitos sociais sempre existiram.

A solução ao longo da História sempre foi a conciliação seguida de reformas entabuladas entre grupos da elite política e econômica. O povo, tal como na proclamação da República, a tudo assistia perplexo.

Não entendia nada. Agora é diferente. As manifestações se estendem por toda a parte. Nasceram a partir da sociedade. Foi esta que tomou ruas, avenidas e praças clamando por muitas exigências.

As elites se encontravam insatisfeitas. Não agiram, porém. Temiam pelo o pior. A explosão aconteceu espontaneamente e de maneira atomizada. Todos clamam. Todos querem melhorias.

A mais fundamental é a moralidade pública. Ausência de aproveitamento de recursos oficiais. Aqui a primeira dificuldade. Como pode agir o governo se em seu entorno só existem suspeitos?

Terá que cortar seus próprios quadros administrativos e políticos. Se o fizer ficará sem sustentação no jogo parlamentar. Só profunda coragem cívica poderá livrar a sociedade da confusão instalada.

Como não existem, entre os manifestantes, interlocutores legítimos – sob o prisma tradicional – só atitudes individuais dos governantes, que possam ir ao encontro da votante popular, expressas nas ruas, eventualmente amainarão os anseios da coletividade.

Meros discursos formais ou as tradicionais reuniões entre governantes não solucionará a difícil situação criada pela inconseqüência de alguns administradores públicos.

As respostas necessitam ser imediatas. Estas são de difícil obtenção. É simples entender. Os últimos anos foram ricos de benesses. Conseguiu-se ampliar a classe média. Retirou-se milhões da miséria extrema.

O que oferecer agora e já? Tudo o que é solicitado pelas multidões exige tempo e dinheiro. O aparelhamento das universidades importa na formação de bons professores. Isto demora.

Os hospitais qualificados impõem enormes recursos financeiros e a especialização de equipes. Estas exigem longa maturação para se obter resultados positivos.

Resta a punição dos corruptos. Em alguns casos, depende da Justiça. Em outras hipóteses, existem as alianças político-partidárias indispensáveis para os embates parlamentares.

Pobre Poder Executivo. Se ficar o bicho come, se correr o bicho pega. Esta é a situação do Governo. Poucas saídas para uma confusão enorme. Os marqueteiros contratados não vão resolver absolutamente nada.

A sociedade está cansada de imagens falsas. Deseja alterar a realidade. Anos de democracia construíram uma cidadania exigente. Tudo mudou. Os governantes, em seus palácios, pensaram que as marionetes estariam sempre prontas para responder de acordo com suas vontades. Erraram.

Na democracia todos se movem e todos têm vontades próprias. A sociedade complexa da atualidade, quando necessário, se une e vai para as ruas.

Podem-se manter os governos apesar da posição contrária da opinião pública. O custo político e psicológico é imenso. Chega um momento que o edifício ruiu irreversivelmente.

Espera-se que, nos próximos dias, medidas sejam tomadas com coragem cívica. A sociedade percebeu a força de seus gestos. Vai continuar a praticá-los indefinitivamente.

Só atos governamentais claros e precisos podem sustar os atos populares da atualidade brasileira. Caso contrário, a cidadania terá que conviver com uma nova forma política de atuação: a manifestação coletiva.

Não há mais lugar para restrições mentais.

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