CATÁSTROFE À VISTA


 

Poder sabe bem como abafar uma crítica*

 

Vive-se tempos estranhos.

Uma catástrofe moral atingiu os brasileiros.

Destruíram todos os fundamentos da sociedade.

Nada restou intocável.

Aprendeu-se, após a proclamação da República, a abominar o delator.

Todos viam, a partir dos bancos escolares, o delator como o infame.

Delator, aquele que trai.

Joaquim Silvério dos Reis, infame.

Trocou os conjurados de Ouro Preto pela  sua divida perante a Fazenda Real.

172:763$919 custou a vida de Tiradentes e a liberdade da Pátria.

Agora, delatores tornaram-se figuras televisivas.

Com desfaçatez contam suas artimanhas.

Falam o que bem desejam.

São respeitados como colaboradores.

A Corte maior do País proclama a importância dos infames para desvendar à criminalidade.

Assim é, se lhe parece.

Nestes tempos apocalípticos, valores esculpidos, durante séculos, nas consciências, são esquecidos.

Montesquieu aponta para uma dicotomia: a honra é própria das monarquias, a virtude é inerente às republicas.

Bons tempos aqueles em que os pensadores divagavam sobre termos e seus conteúdos.

Hoje, nas monarquias já não se cultua à honra, própria das condicionantes pessoais.

Nas repúblicas, apesar de a todo momento se ouvir falar em valores republicanos, a virtude deixou de existir.

Já não se vive de maneira correta e desejável.

Vive-se sem princípios e valores.

O caos moral substituiu a velha honra e a sadia virtude.

É deplorável o que se vê e o que se ouve na atualidade brasileira.

Tudo em decomposição.

Pobre daqueles que ainda acreditam em honra como reflexo dos atributos sensíveis de cada pessoa.

É melhor a honra com pobreza, que a riqueza sem honra.

Assim se pensou durante muitos séculos.

Uma sociedade, sem tendências capitalistas, assim educava seus filhos.

Um capitalismo de compadres, de abrupto, invadiu todos os poros do corpo social.

Este, sem anticorpos, tornou-se suscetível de uma infecção generalizada.

Tudo apodreceu no Brasil.

Só o fim desta geração hedonista e primitiva poderá salvar o que resta em uma sociedade enfraquecida.

O Brasil perdeu sua honra e sua virtude.

Deixou de ser monarquia e não se tornou uma república.

Ao contrário, concebeu uma entropia moral como suporte de convivência.

Não dá.

Uma sociedade sem princípios e valores tende ao fenecimento.

Nenhuma perdurou quando a moral sucumbe.

Ou se inicia um movimento de salvação ética ou se tende a anomia plena.

Alguns estados da Federação já apontam para este processo.

Ele deve ser estancado.

Nos anos 40 do Século passado, Itália, França e Alemanha demonstraram que, após flagelos morais e físicos, ser possível recomeçar.

É necessário buscar, no mais profundo da nacionalidade, seus efetivos valores, para  reiniciar a caminhada.

É hora e vez.

Sem demora.

 

 

Referencias.

 

* Pitt-Rivers, Julian – A doença da honra- in A Honra, vide abaixo.

Vianna, Helio – História do Brasil. Edições Melhoramentos –  1972

Gautheron, Marie – A Honra – L&PM Editores – Porto Alegre – 1992

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