CARNAVAL COMO LIÇÃO


É uma aula. Uma belíssima aula sobre integração social. Os acadêmicos podem desenvolver estudos amplos e profundos. Não conseguirão, no entanto, captar a essência da sociedade brasileira.

Esta – a essência da brasilidade – contudo, explode com naturalidade nos festejos carnavalescos. Uma aula singela e plena para captar como se comportam os brasileiros.

As escolas de samba, particularmente, somam todas as etnias e absorvem todos os atributos da gente brasileira. A harmonia aliada à disciplina dos desfiles aponta para qualidades, por vezes, negada aos brasileiros.

Nada rompe a singularidade de uma escola de samba. Os passistas das inúmeras alas giram de acordo com as diretrizes dos dirigentes e de conformidade com o ritmo das baterias.

Nada foge do regular. Tudo corre com simplicidade e sentido de união coletiva. Ninguém é singular em uma escola de samba. Cada pessoa é integrante de um todo harmônico e único.

A evolução histórica das escolas de samba ainda não mereceu um estudo profundo e sem preconceitos aqui em São Paulo. Os negros eram poucos na capital.

Quando da grande imigração, os brancos – especialmente italianos – trouxeram seus costumes e práticas carnavalescas. Surgiram os corsos com os primeiros veículos a motor na Avenida Paulista e nos bairros consolidados.

Os negros e suas práticas musicais foram marginalizados. Eram poucos e sabidamente pobres. Mantiveram, porém, apesar da marginalização os seus batuques e folguedos espontâneos.

A caminhada foi longa. Quase clandestina em determinadas épocas. No entanto, a persistência e o amor à música africana permitiram a permanência dos seus valores na cidade de São Paulo.

Os pequenos grupos de sambistas – Vai-Vai, do Bexiga, Nenê da Vila Matilde, entre outros – mantiveram as prática de seus ancestrais e destas construíram agremiações sólidas e amadas por todos.

Ver, hoje, no Sambódromo paulistano o desfile de escolas de sambas – de qualquer dos grupos – é identificar uma séria de valores da brasilidade. Negros e brancos, lado a lado, se apresentam em perfeita sintonia.

Quem observar, com acuidade, os passistas irá encontrar descendentes de japoneses e coreanos junto com negros e brancos. É espetáculo comovente.

Os negros, com esforço e tenacidade, permitiram o surgimento de um espetáculo único. As etnias evoluindo sem preconceitos. A vibração é igual entre todos os integrantes das escolas.

Um desfile de escolas de samba é aula de sociologia sem igual. Não há diferenças. Todos são iguais. Ninguém é discriminado. Uma comunidade de pessoas que se respeitam.

Alguns brasileiros têm muito que aprender nos carnavais de todas as cidades. Não há lugar para qualquer preconceito. A integração cultural e de etnias é plena.

Só os pedantes, que não têm olhos de ver, não percebem a grande lição recolhida em todo o País nos tempos de Carnaval. Não há obstáculos que este povo não possa vencer.

Soube, através dos anos, preservar seus valores e distribuí-los a todos sem avareza. Os negros, a partir de seus blocos e batuques, permitiram a explosão de espetáculos de igualdade e harmonia sem igual em qualquer parte do mundo.

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