CAMPANHA ELEITORAL É FARSA, FIGURA DE CANDIDATO É FABRICADA


A campanha eleitoral em desenvolvimento, desde as convenções partidárias, avança, neste momento, entre vitórias e derrotas das várias seleções de futebol que se empenham na Copa da África.

Os povos acompanham os jogos. A televisão de maneira avassaladora cobre todas as telas. Em alguns países com mais intensidade. Em outros com menor vibração. Ela, porém, está sempre presente.

Os jogos apresentam-se ao vivo. Tudo se vê e tudo pode ser observado. O impedimento ou a falta máxima, o gol ou a oportunidade perdida. Nada escapa. A verdade é refletida por inteiro.

Daí os milhões de telespectadores, pelo mundo afora, poderem recolher as qualidades ou imperfeições de cada jogador envolvido nas inúmeras partidas.

Não há mecanismos impondo deformações à verdade. As imagens espelham a realidade e esta é analisada pelos torcedores com emoções e racionalidade.

Assim deve ser. No mundo contemporâneo cada pessoa deve formar sua convicção e agir de acordo com sua consciência. É a conseqüência inevitável da exigida publicidade de todos os atos de interesse da coletividade.

O princípio é válido para o futebol – em virtude do sentido de coletividade que o envolve – e também para outras atividades que, por maiores motivos, exigem a exposição integral das personagens envolvidas.

Não se pode fragilizar a verdade quando os temas dizem respeito à cidadania. A política, como atividade fundamental para a presença cidadã, não deve e não pode fugir à publicidade dos atos de seus atores.

O eleitor, cidadão ativo, deseja se inteirar da fisionomia verdadeira das personagens presentes na arena. Não podem estas ser glamourizadas por técnicas para embalsamar cadáveres.

Devem se apresentar com veracidade. Não mentir. Não falsear a imagem. Modos e gestos. Cada um deve assumir sua real personalidade.

Não pode o candidato carente de humor ou de pouca empatia popular surgir como um gentil-homem. Ou uma mulher, passada nos anos, tornar-se uma donzela em flor.

Isto acontece, no entanto, nas campanhas brasileiras. Os candidatos são engolfados pelos marqueteiros e estes são capazes de tornar um malfeitor em santo de excelsas virtudes.

Falou-se muito nestes últimos meses na ficha limpa. Houve movimento cívico e todos os meios de comunicação empenharam-se em transformar o anseio popular em efetividade.

Os políticos condenados por colegiados da Justiça serão afastados da disputa por cargos nas próximas eleições. Romperam-se princípios e valores constitucionais, mas o objetivo foi atingido.

A exigência da anuidade das leis eleitoras – elas devem ser promulgadas um ano antes dos pleitos – foi lançada ao esquecimento. A lei retroagir não importa. O clamor popular incidiu sobre os tribunais.

Fugiu a Cortes de princípios assentados. Pena. Mas, ainda assim, positivo. Os políticos condenados estarão longe das futuras eleições e das que as sucederem.

Se agiu com tanto vigor a Justiça Eleitoral no caso da ficha limpa, deveria também, no uso de sua função regulamentadora, impedir a utilização do rádio e da televisão de maneira deformada.

Os candidatos que surgem no vídeo e no áudio, muitas vezes, não possuem qualquer semelhança com suas figuras verdadeiras. São imagens trabalhadas, empalhadas, pelos marqueteiros.

Estes nem sequer colhem traços das personalidades dos candidatos. Na verdade, os plasmam de acordo com as pesquisas de opinião. Não importa o que o candidato pensa. Vale o que deseja a sociedade naquele instante.

A falsidade torna-se assim plena. O destinatário do voto nada tem a ver com a figura apresentada. Esta é produto do manuseio das mais variadas técnicas de deformação.

As eleições, desta maneira, se transformam em novela, onde mocinhas e mocinhos não dizem o que pensam, mas sim o que o produtor imagina oportuno.

É farsa a campanha eleitoral. A moda das cantigas medievais pode-se dizer que todo o mundo finge ser o que não é.

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