CABALISMO


No regime eleitoral dos tempos do Império, chamavam-se de cabalistas as pessoas que atuavam para obter resultados favoráveis nos pleitos, particularmente quando das qualificações.
O termo cabalista possuía dois sentidos: o pejorativo, como acima se indicou, e, também, um positivo. Tanto assim que, 1868, se editou um livreto intitulado “O Cabalista Eleitoral”.
Esta pequena publicação continha todos os avisos do Ministério a respeito de eleições. Um manual eleitoral, portanto. O que importa, porém, é o uso maldoso da palavra: cabalista.
O cabalista era o operador eleitoral. Aquele que buscava bons resultados para os candidatos a que apoiava. O tema parece supérfluo um dia após o primeiro turno das eleições municipais.
É apenas registro da existência, em todas as épocas eleitorais, de pessoas que operam para alterar os resultados dos pleitos. Hoje, com a informática, o cabalismo tomou inúmeras formas.
Desde os resultados de pesquisas de opinião até as mensagens ferinas distribuídas pela internet temos maneiras de exercício do cabalismo moderno.
Ele é pouco notado. As pessoas comuns, acostumadas às mensagens do dia-a-dia, não se apercebem que estão sofrendo bombardeamento por diferentes informações.
Estas informações são dirigidas. Contêm a vontade do expositor e este se utiliza das inúmeras formas existentes de exposição de vontades. Antigamente, tinha-se apenas a mensagem escrita.
Cada partido político ou agremiação contava, no passado, com seu jornal, mesmo que de pequena tiragem. Sabia o leitor a origem e o conteúdo das notas produzidas.
Durante os dois reinados, centenas de pequenos panfletos eram impressos, particularmente no Rio de Janeiro. Cada um se colocava em defesa de um ideal.
Mais tarde, na Primeira República, em menor quantidade, o mesmo acontecia. Havia folhas republicanas de vários matizes e ainda alguns defensores remanescentes da monarquia.
Depois surgiram os jornais ideológicos. À esquerda e a direita passaram a contar com seus próprios periódicos. Os leitores é que faziam a opção de leitura. Escolhiam a mensagem que desejavam receber.
Hoje, tudo se confunde. Os jornais – empresas privadas de natureza econômica – perderam muito de sua capacidade de indicar opções políticas a seus leitores.
Muitas vezes, por formas transversas transmitem suas mensagens e indicam de forma obscura opções eleitorais. Nada fica claro como no passado.
Com a internet o fenonemo tomou outra dimensão. As vontades se atomizaram. Tornaram-se parte de um grande cipoal, onde ninguém se entende.
A internet, porém, leva vantagem. É democrática, porque universal. Restaram as rádios e as televisões. A estas se aplicam os mesmos elementos propostos para os jornais impressos. São privadas e buscam permanecer economicamente viáveis.
Nota-se, pois, ao término do primeiro turno que, tal como acontecia no Império, cabalistas de outra natureza atuaram sobre os resultados eleitorais.
Construíram barreiras para a efetiva captação pelo eleitor da mensagem dos candidatos. Estes não expuseram suas idéias. Não debaterem entre si. Apenas exibiram imagens construídas.
A nossa democracia está necessitando de análise profunda. Como está, o voto torna-se um bom exercício e um péssimo instrumento de escolha dos melhores.
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