BRASÍLIA, COMO OS ROMANOS


 

 

Os velhos romanos exigiam de seus senadores, além de capacidade intelectual, que fossem ricos. O cargo público servia para o enriquecimento.

Isto mesmo, cargo era fonte de proveitos extras. Ninguém escapava desta realidade. Paul Veyne, autor de obra sobre Sêneca, aponta este fato com destreza e clareza.

Os dirigentes de Roma apreciavam os ricos e não se aborreciam com os métodos de amealhar fortunas. Não havia, na época, bancos. A atividade financeira era exercida pela nobreza, de maneira especial pelos senadores.

Todos eram usurários. Desta sina, não escapou sequer o filósofo do estoicismo, que foi Sêneca. Além das atividades senatoriais, nas horas vagas, emprestava moeda.

Pertencia a uma rica família de Córdoba, lá da Andaluzia. No entanto, apesar de seu pensamento estóico, não fugiu do costume da velha Roma: procurou enriquecer ainda mais.

Para oferecer um falso traço singelo em suas atividades, plantava videiras e produzia vinho nas colinas romanas. Hoje o famoso vinho branco conhecido por Frascatti.

No livro de Veyne, Sêneca e o estoicismo, algumas poucas situações correspondem com os nossos tempos e com o Brasil destes dias tumultuados. Vale a aproximação.

Em Brasília, tal como na antiga Roma, com exceções mínimas, os nossos parlamentares – senadores e deputados federais – não se preocupam com a moral corriqueira.

Utilizam os cargos públicos para enriquecer. Pouco se importam com as exigências legais para as práticas administrativas na contemporaneidade. Estas exigem moralidade a todos os ocupantes de cargos eletivos ou obtidos mediante concurso.

Há regras legais precisas sobre o tema e ninguém – até por princípio legal – pode ignorar as normas elaboradas pelo Estado.
A desfaçatez é inaceitável em tempos de plena transparência.

É ridículo – se não ousado – imaginar que atuais parlamentares brasileiros queiram imitar seus predecessores romanos. São outros tempos e outros costumes.

O cinismo não condiz com a atividade pública. Esta exige compostura e obediência às leis. Hoje quem se aproveita de seu cargo – não será homenageado como na antiga Roma – vai para a cadeia.

Alguns lamentavelmente em Brasília ainda não chegaram a esta verdade.

Imaginam-se na Roma clássica e acabam na cadeia. Riqueza amealhada por corrupção já não traz prestígio.

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