BRASIL PODE OFERECER LIÇÃO DE TOLERÂNCIA RELIGIOSA


Três calendários principais comandam os dias da humanidade: o calendário gregoriano, o calendário judaico e o calendário muçulmano. Eles regem a vida dos povos e indicam as datas religiosas de cada confissão.

O primeiro – o calendário gregoriano – baseia-se nos movimentos do sistema solar e foi introduzido pelo papa Gregório XIII no ano de 1582, na busca de uniformidade na contagem do tempo.

O calendário judaico é baseado nas movimentações lunares e do próprio Sol. O calendário muçulmano, por seu turno, baseia-se no ano lunar. Os três contam com a importante função de indicar as festas religiosas.

Esta última constatação indica que os povos – particularmente os monoteístas – não conseguem viver longe de suas devoções e de seus valores religiosos.

Estes devem merecer respeito dos crentes, agnósticos e ateus. Cada pessoa é titular de sua própria esfera de pensamento e esta deve ser respeitada pelos terceiros estranhos ao seu modo de ver o mundo.

As sociedades já sofreram excessivamente pelos excessos praticados pelos fundamentalistas de todos os credos. A visão unilateral do cenário religioso é perversa.

Quase sempre leva a distorções e a violências contra os direitos das pessoas. Foi assim na antiguidade. Voltou a ser assim nos tempos modernos e continua da mesma maneira na contemporaneidade.

Estas observações se colocam em virtude dos últimos acontecimentos verificados nos Estados Unidos. A sociedade americana, em seus primórdios, foi marcadamente cristã.

Os valores iniciais de seu desenvolvimento marcaram profundamente a vida política daquele País e serviu de polo norteador para outras sociedades.

Os americanos souberam recolher os princípios expostos por Lock. Este conheceu as sangrentas lutas religiosas que se desenrolaram na Europa em sua época.

Aqui, no Brasil, em 1823, no decorrer dos trabalhos da Assembleia Geral Constituinte e Legislativa do Império do Brasil, uma das maiores preocupações dos primeiros legisladores se centrou na liberdade religiosa.

A nação que estava nascendo, na vontade de seus constituintes, deveria comportar todas as religiões e permitir o livre desenvolvimento de todos os credos.

Optaram, a final, os legisladores brasileiros pela adoção de uma religião oficial, a Católica, mas não criaram obstáculos maiores para a adoção de outras formas de adoração.

Felizmente, os brasileiros entenderam a importância de respeitar as multiplicas crenças religiosas e a convivência entre elas se desenrola com fluidez no interior da sociedade.

A intolerância é sempre lamentável. Aqui, já ocorreram manifestações e foram prontamente afastadas pelos adeptos desta ou daquela crença. Se no passado episódios de intolerância eram comuns, hoje parecem inteiramente superados.

Esta é uma lição que podemos oferecer a outros povos: como conviver com a tolerância religiosa. Os atuais acontecimentos dos Estados Unidos, originários de um desconhecido pastor, não podem prosperar.

A queima de livros já é ato melancólico e inaceitável. A destruição de um livro religioso – no caso o Alcorão Sagrado – é impensável. O respeito a outro e a maneira de se transformar respeitado.

A inconcebível ideia encontra tristes exemplos na História recente – lá nos Bálcãs – e em tempos remotos, como na retomada de Granada pelos reis Isabel e Fernando.

Vive-se, a partir dos calendários das duas religiões monoteístas – judaísmo e islamismo – meses de importantes festas religiosas. Estas devem merecer comemoração em clima de paz e recíproco respeito.

Foi o que aconteceu aqui no Brasil. Todos puderam se reunir em seus locais de culto sem intromissões externas. Assim se constrói uma verdadeira democracia e um constante aprimoramento das relações sociais.

A propagação de ideias extravagantes e fundamentalistas é um desserviço à causa da humanidade. O importante é transmitir os bons exemplos de convívio e harmonia. É o que está ausente dos meios de comunicação nos dias contemporâneos.

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