BRASIL GANHA TRABALHO QUALIFICADO SOBRE PRESENÇA HOLANDESA


A Holanda, neste ano, já propiciou muitos dissabores aos brasileiros. Aquela partida de futebol, lá na África do Sul, foi um desastre. As esperanças ruíram com um grande golpe. De virada.

Como no passado, os neerlandeses aproveitaram-se, também, de momento de fragilidade, então, dos espanhóis, na época titulares do domínio colonial sobre o Brasil, em virtude do desastre de D. Sebastião, o rei português, no norte da África, onde desapareceu entre areias e mouros.

O episódio do desembarque dos holandeses, no nordeste, mereceu várias interpretações. Alguns indicam como um momento único de integração das etnias formadoras da nacionalidade.

Elas lutaram bravamente e solidárias contra o inimigo estrangeiro e religiosamente antagônico. Somaram-se contra o inimigo comum. Os episódios das lutas costumam freqüentar os livros didáticos.

Estes, porém, apresentam-se superficiais e – comumente – traçam um quadro heróico e singular do povo brasileiro, na época ainda nascente. Não eram, mas pecam pelo ufanismo.

Faltava, na literatura pátria, um trabalho qualificado sobre o marcante acontecimento do século XVII, quando tropas de elite desembarcam no litoral nordestino, em momento de fragilidade econômica e militar de ambos os países ibéricos: Espanha e Portugal.

Estes, então unidos, se encontravam enfraquecidos, sem capacidade de reação, como acontecera em vezes anteriores contra os franceses e mesmo os holandeses.

Os holandeses, que, na época, constituam a primeira nação capitalista da Europa, desejavam expandir-se e o fizeram por muitas áreas do mundo. Não poderiam se encontrar ausentes da América do Sul.

Desejavam o açúcar, farto a partir dos grandes canaviais, e esperavam encontrar ouro e demais minerais preciosos. Sete mil homens desceram dos barcos e tomaram as praias em torno de Olinda e Recife.

A luta, apesar da pobreza de equipamento militar dos locais, foi árdua e intermitente. A guerrilha – ou a guerra volante – mostrou- se eficaz no combate ao invasor. Não lhe deu sossego em nenhum momento.

Tão dramática se apresentou a cena que o escorbuto tomou de assalto as tropas holandesas. Não conseguiu se abastecer de frutas e vegetais. A guerrilha era implacável.

Nesta difícil arte de combater, os guerrilheiros contaram com figura corajosa e emocionadamente defensora da terra e de seus costumes. O índio Felipe Camarão.

Com seus comandados, praticou atos de incrível coragem, utilizando-se do arco e da flecha contra os arcabuzes dos invasores.

Portaram-se covardemente os “inchadas barrigas”, ou seja, os gordos comerciantes que pretendiam, desde logo, aproximar-se dos inimigos e realizar bons negócios.

Nos anos de 1635-1636, com a chegada de grandes reforços, os holandeses conseguiram dominar os guerrilheiros ao se aliarem com os tapuias, no Rio Grande do Norte.

Tantas coisas aconteceram no período holandês. Corrupção nas obras públicas. Traições como a verificada em Porto Calvo, onde a figura de Calabar se ergue como o primeiro grande traidor de nossa História.

Maurício de Nassau parecer ter efetivamente se enamorado do Brasil. O seu apoio a escritores e demais artistas demonstra que ele se encontrava embevecido com sua própria obra e com o panorama tropical.

Quem deseja se informar melhor sobre este período importante de nossa História e da europeia encontra, agora, um precioso trabalho do pernambucano Evaldo Cabral de Mello.

Ele recolheu, em fontes primárias, descrições do período e, em texto, com fluidez impressionante permite ao leitor retornar ao século XVII e rever passagens da própria formação da nacionalidade.

É notável a riqueza de textos consolidados em contínuo fluir no decorrer de longas trezentas e poucas páginas de “O Brasil holandês”, publicado pelas editoras Penguin & Companhia das Letras (2010).

print