ABRIL AMARGO


Dramática a situação europeia. O desemprego cresce em todos os países. A austeridade imposta pela Alemanha a seus “parceiros” leva as comunidades ao desespero.
A primeira vítima foi a Grécia. Foi proibida de realizar um plebiscito para conhecer a vontade de seu povo. Os banqueiros afastaram as práticas democráticas. Exigiram submissão.
Depois foi a vez de Portugal. O pequeno país foi, de maneira avassaladora, colocado de joelhos. Aceitar todas as imposições de Bruxelas e de sua fonte inspiradora centrada em Berlim.
Agora chegou o momento da Espanha. É deprimente a situação espanhola. A cada hora, cento e sessenta novos trabalhadores perdem seus postos, informa a imprensa italiana.
As agências de risco retraem a situação econômica da Espanha. Só resultados negativos. No entanto, até há pouco, parecia que a Espanha havia descoberto todas as minas de prata do mundo.
Mera ilusão. O crédito fácil e sem lastro efetivo criou falsa ilusão de riqueza. Quem conheceu a vida espanhola, nos últimos anos, registrou o que seria uma sociedade fluente.
Tudo ia bem. Até que os países centrais exigiram uma retração profunda. A casa caiu. Quando a casa cai, a desgraça não vem sozinha. Somam-se situações de desconforto em cadeia.
Não bastassem as agruras econômicas, o futebol espanhol, campeão do mundo, conheceu derrotas sucessivas de suas maiores equipes: o Barcelona e o Real de Madrid. Uma tristeza profunda.
Desgraça vem a cavalo, como diziam os antigos. No caso espanhol veio de elefante, este belo e admirado animal. O rei João Carlos, conhecido pelas suas atitudes desabridas, foi autor de façanha inacreditável.
Em época de defesa da ecologia, onde se busca preservar todos os animais, o rei aceita convite de empresário e vai a África. Lá, abate um animal com seu fuzil real. Triste façanha.
Faltou ao rei respeito ao seu povo. Não podia se dar ao luxo de aceitar uma viagem patrocinada por terceiros. Isto é inadmissível em períodos de bonança econômica. Muito menos em conjuntura repleta de sofrimento.
A Espanha, em sua longa História, conheceu apogeu e depressão. Certamente, jamais se deparou com acontecimento semelhante. Um rei, produto de um caudilho – Francisco Franco – não pode romper protocolos.
Todos conhecem a dramaticidade da chamada Guerra Civil Espanhola, primeiro ato da grande guerra europeia do século passado. Milhões de pessoas morreram em batalhas ferozes e de maneira ignóbil.
Republicanos e monarquistas lutaram por todas as partes da península ibérica. Até hoje, existem fortes movimentos sociais em busca da verdade daqueles tempos. Fossas são abertas para recuperar os ossos de vítimas.
Em 14 de abril de 1931, a oitenta e um anos atrás, era proclamada a Segunda República espanhola. Motivo de regozijo. Livros foram publicados dirigidos às crianças: El niño republicano e El Evangelio de la Republica.
Os jovens daquele tempo aprendiam a importância da liberdade, da igualdade e da fraternidade. Aceitaram, quando adultos, o retorno da monarquia para possibilitar a reconquista da democracia.
Como se encontra a consciência profunda dos espanhóis, neste momento? Não constam movimentos republicanos no horizonte. Mas, seguramente, a alma indomável de todos os espanhóis está meditando sobre sua monarquia e seus desmandos.
Um rei deve preservar a moral de seu povo. Quando agride os bons costumes, deve ser tratado como qualquer indivíduo. Ou ainda o absolutismo está gerindo os destinos dos espanhóis?
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