A REFORMA RELIGIOSA NO PLEITO DE 2018


Renomada professora da Universidade de São Paulo escreveu artigo no jornal New York Times.

Analisou os resultados do último pleito presidencial brasileiro.

Foi linear a docente da USP.

Creditou a vitória do candidato vencedor às mazelas oriundas da colonização portuguesa.

Conhecidas as selvagerias produzidas pelos colonizadores a partir de 1500.

A perseguição aos povos autóctones.

Ainominada violência contra africanos.

Nodoas históricas sem precedentes.

Até aí análise vai bem, apesar da omissão às agressões aos judeus.

A autora, porém, ateve-se ao passado.

Deixou de examinar à realidade social contemporânea.

Ver o passado é relativamente fácil.

Compreender o cotidiano é complexo.

Os resultados do pleito de outubro contêm elemento novo.

O Brasil, desde a chegada do português, configurou espaço de hegemonia romana.

Uma religião única: o catolicismo.

Nas caravelas de Cabral, Frei Henrique de Coimbra surge como figura marcante.

Rezou a primeira missa.

Poucos anos depois do “achamento” do Brasil, chegaram os jesuítas.

Os discípulos de Loyola são considerados soldados da Contra-Reforma.

Como soldados, agiram em terras tropicais.

Expulsaram os calvinistas da Baia da Guanabara.

Mais tarde, os holandeses, também de fé reformada, conquistaram espaços no Nordeste.

Aqui também, após inúmeras escaramuças, os batavos se retiraram.

Com eles também se foram muitos judeus.

Fundaram a Nova Amsterdã, atual Nova York.

Veio o Império.

O artigo 5º da Constituição de 1824 mostrava-se taxativo:

“A Religião Católica Apostólica Romana continuará a ser a religião do Império”.

Esta hegemonia religiosa – social e constitucional – preservou-se até a República.

Adotou-se, então, o estado laico.

Mera superficialidade.

A supremacia católica permaneceu durante a República Velha.

Voltou em sua plenitude no Estado Novo.

Basta olhar a estatua do Cristo Redentor erguida no alto do Corcovado.

Dádiva do poder  temporal ao espiritual monolítico.

Manteve-se este estado de coisas durante os anos pós 1964.

Conflitos aqui e ali, mas atendidos os reclamos da hierarquia católica.

Esta, por seu turno, apoiada na Teologia da Libertação, rompeu com o seu tradicional conservadorismo.

Avançou por terrenos antes vedados.

Aqui, algo novo.

Rompe-se a religiosidade monolítica.

A par das confissões históricas – luteranos, presbiterianos, batistas, metodistas, entre outros– surgem múltiplos segmentos reformados.

Templos das várias confissões espalharam-se por todos os poros da sociedade.

Neste movimento inédito, as igrejas históricas ampliaram o número de  seguidores.

As novas confissões expandiram-se geometricamente.

A onda reformada invadiu todos os setores da sociedade.

Ao que parece, inclusive as casernas.

Já não se ouve falar no Positivismo, como doutrina das cúpulas fardadas.

Não seria este fenômeno elemento a ser examinado após os resultados do pleito presidencial?

Uma reforma religiosa – como conheceu a Europa no Século XVI –  está em desenvolvimento, tardiamente, no Brasil?

Posta esta indagação, sem rigor científico, arrolam-se ainda as seguintes proposições, como causa dos resultados eleitorais:

  • O desamor às práticas corruptas adotadas pelos políticos no correr dos anos.

 

  • O ingresso dos ensinamentos originários de Medelín, na Colômbia, no campo da teologia católica.

 

  • A fragilização das comunidades eclesiais de base

 

  • A imigração dos fiéis destas para os templos evangélicos.

 

  • Os novos meios diretos de comunicação: especialmente a internet .

 

  • Por ser direta, a internet assemelha-se ao sacerdócio universal inerente à Reforma.

Estas proposições não contam com trabalho de campo.

Fogem a qualquer rigor científico.

Caracterizam-se como simples elucubrações.

Meras observações das mudanças verificadas na sociedade.

Merecem – s.m.j. – uma análise mais profunda da academia.

Particularmente, dos historiadores e antropólogos.

É o que se aguarda.

 

 

 

Referências:

 

 

 

 

Lilia M. Schwarcz – Artigo no jornal NEW YORK TIMES: Bolsonaro representa el passado colonial de Brasil – 7. novembro. 2018 – edição eletrônica.

Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling – Brasil: Uma Biografia – Companhia das Letras – São Paulo – 2015.

Christopher Dwson – Historia de la Cultura Cristiana – Fondo de Cultura Económica – Mexico – 2006.

Anita Novinsky e os. – Os Judeus que construíram o Brasil – Planeta -São Paulo – 2016.

*Nietsche in obra acima citada de Christopher Dwson.

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