A MORTE ASSISTIDA


Nas últimas décadas, perderam-se todos os sentimentos e valores construídos por diversas gerações. Princípios firmemente estabelecidos ruíram.

Dois acontecimentos sempre marcaram a convivência humana: o surgimento da vida e a presença da morte. Apontam para os polos extremos da existência.
No passado, o nascimento era esperado com ansiedade e emoção por todos os familiares. Aguardava-se para saber o sexo do nascituro e esperava-se a sobrevivência da mãe aos riscos do parto.
A morte, por sua vez, reunia as famílias em torno do moribundo. A vela entre suas mãos indicava que o momento decisivo estava próximo. Chorava-se e acompanhava-se o féretro até a “última morada”.
Tudo mudou. O nascimento é ato seguro e sem sobressaltos. Os traços do feto são conhecidos desde os primeiros meses de gestação. A mulher não corre perigos desusados.
A medicina, felizmente, evoluiu e tudo corre com normalidade, salvo raras exceções. A morte tornou-se mecânica. O enfermo, isolado de sua família, morre só. Sem qualquer olhar confortador.
Tudo é mecânico. Todos querem se livrar do fardo, consistente no desenganado, o mais rapidamente possível. O enterro se realiza o mais rápido possível.
Perdeu-se o sentido do sagrado antes existente nos dois acontecimentos nucleares. O mundo utilitarista não deseja arcar com ônus algum. Tudo tem que ser pragmático. A vida e a morte parecem nada significar.
Estes pensamentos surgem quando na vizinha Argentina, entre manifestações de regozijo, foi aprovada lei permitindo a eutanásia, conhecida por morte digna.
Claro que o sofrimento desmedido dos enfermos é preocupação de todos que tenham o mínimo senso moral. Daí a importância do instituto aprovado pelo Parlamento vizinho.
No Brasil, as instituições médicas trataram do tema e depois recuaram. A preocupação com a aplicação do instituto é grande. Pode alguém abreviar o desenlace de outro?
É indagação preocupante. Sem resposta convincente. Há tratados sobre o tema. Foi examinado na Roma clássica. A morte de Augusto mereceu registro de Suetonio. Bacon – utilitarista – defendeu a eutanásia em sua obra Do progresso e da promoção dos saberes.
Morus, em sua Utopia, expressamente refere-se aos hospitais de sua ilha, verdadeiras cidades, onde a prática da morte assistida era obrigatória, desde que de supervisionada por sacerdotes e médicos.
O assunto não ficou à margem do pensamento nazista. Os nacionais-socialistas aplicaram o que denominavam a “morte doce”. Exterminavam todos que se apresentam deformações físicas ou psíquicas.
A sociedade ariana precisava ser eugênica, mesmo que isto custasse sacrifício de vidas de seus integrantes. Loucuras de um megalomaníaco que incendiou o mundo.
Certamente, o assunto, em razão da posição argentina e antes da Colômbia, chegará até aqui. Muitos apresentarão a Holanda como exemplo de aplicação da morte assistida.
Apontarão alguns estados membros dos Estados Unidos como adeptos da pratica. Tudo deve ser analisado. Na controvérsia será necessário analisar os valores que formaram nossa sociedade.
Compreender que cada povo tem suas idiossincrasias. Nem sempre o que bom para os outros é aplicável quando existem outras condicionantes. O tema está lançado.
print