A HISTÓRIA POUCO IMPORTA


Os demais latino-americanos têm muito a ensinar aos brasileiros, especialmente no que diz respeito aos registros históricos. Em todas as partes do continente, há uma positiva vibração patriótica.

 

Percorrer as cidades da América de fala espanhola gera uma inevitável vontade de comparar realidades. São tão iguais e tão diferentes os americanos de voz espanhola e os de voz portuguesa.

 

A primeira constatação é da presença, na América espanhola, de monumentos comemorativos dos feitos históricos dos seus povos por todas as praças e sítios.

 

Nada e ninguém é esquecido. O bronze registra momentos heróicos ou situações de dor ou alegria. O mais impressionante. Estes documentos são conservados com respeito e dedicação.

 

Há, por parte da comunidade, um positivo reconhecimento da importância destes registros cívicos ou religiosos. Se os monumentos são bem cuidados, ainda mais são os locais de considerados relevantes.

 

Os museus apontam para os grandes figurantes das diversas etapas da História de cada país. São bem cuidados e funcionários expõem o conteúdo das amostras.

 

Tudo bem diferente na América portuguesa representada pelo Brasil. Por aqui, os museus nem sempre são bem preservados e os monumentos públicos costumeiramente vandalizados.

 

É só percorrer os centros históricos das cidades brasileiras para se constatar o desamor da sociedade pelos monumentos públicos e pelos prédios históricos.

 

O nosso mais importante museu histórico – o Museu do Ipiranga – está em ruínas e sua detentora, a Universidade de São Paulo, insolvente. Nenhuma preocupação com o significativo espaço da nacionalidade.

 

As autoridades paulistas e por extensão brasileiras preocupam-se em financiar espetáculos de discutível qualidade. No entanto, em termos de cultura, esquecem os registros do passado.

 

A Biblioteca Nacional, situada no Rio de Janeiro, com seu importante e valioso acervo espera uma restauração. Nada se anuncia. Fala-se em todos os “vales”. Não valem, porém, o acervo de livros trazidos por D. João VI, no ano de 1808.

 

A nossa América, a de fala portuguesa, parece deslocada de seu passado. Vive um presente ilusório. Imita tresloucadamente os países centrais e perde sua alma e sua consciência histórica.

 

Os demais latino-americanos têm muito a ensinar aos brasileiros, especialmente no que diz respeito aos registros históricos. Em todas as partes do continente, há uma positiva vibração patriótica.

 

Aqui, existe uma perda de civismo acentuada. As nossas autoridades parecem desconhecer a importância do passado para se poder construir o presente.

 

Uma sociedade sem valores perde identidade. Torna-se uma mera aventura sem conteúdo. Continua-se, por aqui, com a idéia de enriquecer a custa da desenfreada exploração de todos os bens da natureza.

 

Caem nossos templos. Ruem nossos museus. Perde-se a nossa mais antiga biblioteca. E o silêncio é geral. Vive-se em uma sociedade de alienados. Triste quando apenas o dia-a-dia importa.

 

Percorram nossas autoridades os múltiplos países desta América do Sul e irão encontrar um cenário diverso do produzido pela inépcia e pela incompetência aqui presentes.

 

Já se viveu momentos melhores na vida pública nacional. Os instantes históricos e as figuras de relevo eram registrados em nossas praças. Agora, só se pena no fugaz.

 

Há quantos anos não se instala um importante monumento em nossas cidades? Em São Paulo, certamente uma geração não assistiu o erguimento de qualquer documento de feitos importantes.

 

Vai mal. Vai-se perder a identidade e sem esta qualquer sociedade torna-se fantoche a serviço de terceiros. O patrimônio histórico nacional – desde Getúlio Vargas – não merece cuidado especial.

 

É lamentável.

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