A DECADÊNCIA DOS PARLAMENTOS


O visitante de países sul americanos recolhe, entre os cidadãos, uma consistente unanimidade. Não há divergências. Todos os povos da América meridional têm um ponto em comum.
É o desamor ao parlamento de seus respectivos países. O mal não é apenas brasileiro. Aflige as sociedades mais diversas. Os sul  americanos não se mostram sensibilizados por seus representantes populares.
O grave fenômeno pode contar com várias explicações. Uma, certamente histórica, aponta para a formação ibérica. Os dois povos da península – portugueses e espanhóis – sempre conheceram carga autoritária.
A livre discussão não se coadunava com o governo dos reis absolutistas e suas posturas de natureza religiosa. A única palavra era do suserano. Sua vontade não podia ser contestada.
Esta herança secular encontra-se presente nas novas democracias desta região. Os senadores e deputados não perceberam a importância de suas atuações para as práticas democráticas.
As sociedades, por seu turno, não admiram os jogos verbais e as atuações de seus representantes. São, em geral, tão carentes e, por isto, querem resultados imediatos para o afastamento de suas necessidades básicas.
Os parlamentares ainda não se deram contam do perigo que esta situação coloca para o futuro político desta América. Todos os dias – aqui e alhures – praticam atos desabonadores, sem qualquer pudor.
Utilizam-se da máquina pública como coisa sua. Não dão importância para opinião pública. Vivem apartados da realidade. Criam seu próprio mundo. Não se concebem vinculados aos eleitores.
Quando atingem o mandato eletivo, imaginam-se senhores absolutos de suas vontades. Pouco importa as censuras da cidadania. Esta só é recordada por ocasião dos pleitos eleitorais.
A crise de confiança que envolve os parlamentos é grave. Pode levar a conseqüências desastrosas. Um parlamento não é um clube de amigos. Foi imaginado como caixa de repercussão das vontades da cidadania.
O sorriso maroto, ostentado por alguns, quando de eleições para as mesas das Casas, é agressivo para o espectador. Sente-se ludibriado. Os seus valores médios achincalhados, em razão do passado de alguns dos eleitos.
Há, por toda a parte, uma onda de violência contra o cidadão prestante. Aquele que trabalha. Forma sua família. Educa seus filhos para uma vida cívica, onde os valores devem ser preservados.
Os maus exemplos dos parlamentos – rejeitados pela cidadania – leva os fracos de consciência a praticar delitos. Se eles podem, porque eu não posso? É a indagação feita pela pessoa de má formação.
Daí a criminalidade generalizada existente em nossas cidades. A prática de todos os crimes previstos nos Códigos Penais. O desrespeito à vida e à integridade física das pessoas.
Os parlamentos deviam buscar a recuperação de suas imagens. Além das conseqüências palpáveis e visíveis ao mais sóbrio dos observadores, há um risco maior.
Este se coloca no cerne do próprio regime democrático. Foi muito difícil conquistá-lo por toda a America meridional. Seria tolo abrir-se possibilidade para aventureiros imaginarem o pior.
É tempo ainda para se salvar as conquistas e se caminhar para um efetivo aperfeiçoamento dos parlamentos. O comportamento dos parlamentares deve se alterar.
Os meios de comunicação de massa, por seu turno, precisam registrar o que de positivo é realizado nas assembléias. Apontar só para os defeitos é perverso. Oportuno seria registrar os bons projetos e os trabalhos das Comissões.
Se isto não acontecer, o futuro pode se tornar sombrio.
print