A LIÇÃO ESQUECIDA


A prosperidade não é infinita. Possui limites intransponíveis. Nos últimos anos, sociedades da América, partes da Ásia e Oceania conheceram um desenvolvimento acentuado.

Os mercados financeiros dinâmicos e as trocas de mercadorias trepidantes. De repente, não mais que de repente, os fluxos diminuíram, quase pararam. Os mercados estacionaram. Há temor por toda a parte.

Os analistas – a serviço das grandes corporações – buscam as causas da estagnação geral. Apontam a quebra no mercado de hipotecas nos Estados Unidos. Tecem considerações sobre o preço do petróleo.

Temerosas de perda de parcela do mercado, as grandes petroleiras investem contra o etanol brasileiro. É o culpado de tudo, inclusive pela escassez de alimentos.

São argumentos de ocasião. Não avançam para as causas remotas da situação ora vivida pela humanidade. O público de plantão pode se convencer. O observador mais atilado fica perplexo.

Não querem enxergar a realidade. Esta é clara e precisa. O planeta Terra – finito e pequeno perante a grandeza do Universo – começa a apontar traços de saturação. Explorado predatoriamente já não resiste às agressões.

Retira-se petróleo. Explora-se manganês. Recolhe-se produto das jazidas minerais em busca de cimento e cal. Ferem-se as matas úmidas. Rompem-se o equilíbrio das matas subtropicais.

Depois de todas estas ações e outras mais, os habitantes da parcela rica do mundo esperam que tudo continue como antes. Claro que não. A destruição paulatina do planeta teria conseqüências.

Estas conseqüências podem ser recolhidas por todas as partes. A mais grave, porém, é o início de um ciclo de falta de alimentos. Os povos pobres, já subnutridos, terão ainda menores migalhas.

Aqui se encontra o ponto grave da questão. Trata-se da marginalização de um problema extremamente grave a se somar a todos os outros já indicados:

A explosão demográfica. Esta é uma questão pouco analisada, em razão de questionamentos religiosos e morais. Ela, no entanto, se encontra no cerne de todos os demais problemas.

O tema mereceu extenuante estudo por parte de um teólogo e economista clássico. Thomas Robert Malthus, no início do Século XIX, elaborou obra marcante sob o título Essay on Population.

Em seus estudos, o economista inglês demonstrava preocupação com o crescimento desmedido das populações. Este levaria inevitavelmente a desastre sem precedentes, a fome.

Malthus expôs suas preocupações antes do descobrimento de inúmeros produtos capazes de frear as epidemias e de sustar as endemias. A preservação da espécie humana ampliou-se com estas descobertas.

Sem conhecer os novos fármacos, de maneira pragmática e pouco sensível, Malthus colocou suas esperanças na eclosão de guerras entre os povos. Estas serviriam como instrumento de equilíbrio demográfico.

Deixaram de ocorrer grandes guerras de natureza mundial. Os conflitos tornaram-se localizados e de pequena expressão. Os organismos internacionais mostraram razoável eficiência na preservação da paz.

Parte, pois, da catastrófica visão malthusiana não se concretizou. Os povos foram capazes de alguns atos positivos, particularmente no referente aos conflitos bélicos.

Restaram, porém, questões agudas. Uma delas, a destruição contínua do planeta para a sustentação de um consumismo exagerado. Outra, tão aguda quanto à primeira, se coloca no sensível tema da explosão demográfica.

Homens e mulheres, parceiros na grande travessia, integram-se em momentos de sensualidade e amor. É da essência da natureza humana. Poucos e raros preservam-se imunes à união de corpos.

Se esta é uma realidade que acompanha a humanidade, desde tempos remotos, torna-se impossível desconhecê-la ou exigir das pessoas abstinência incontida.

Os governos e as entidades internacionais devem afastar visões hipócritas, suportadas em falso moralismo. Precisam difundir meios para se atingir paternidade e maternidade responsáveis.

A humanidade superou desafios impostos pela natureza. Não pode aceitar ausência de controle sobre seu próprio corpo. Esta atitude leva miséria e dor a extensas regiões e a uma imensidão de pessoas.

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