COMEÇOU, É SÓ ESPERAR


As pessoas começaram a sentir os efeitos da crise econômica. Ainda de maneira leve no dia-a-dia. Psicologicamente, contudo, todos se encontram sensibilizados.

Há algo no ar que não é avião de carreira, como diria o sábio Barão de Itararé, o Apporely, jornalista de outros tempos, quando a ironia substituía a sisudez dos analistas econômicos.

Todos já perceberam. Os meios de comunicação espalharam a má notícia. A economia chave, os Estados Unidos, não se portou dentro das boas práticas corporativas.

Quebrou. Na sua imensa ruptura, leva os periféricos, de maneira gradual, a situações de desequilíbrio. O desconforto será geral. Pequenos países se mostram inviabilizados. Economias privadas em apuros.

Os bancos centrais atuam nas madrugadas à espera do amanhecer das bolsas. O resultado das trocas financeiras. Os otimistas acreditam no milagre. Em breve, tudo estará normalizado.

Os pessimistas estendem a crise por muitos anos. Dez anos, duração similar à Grande Depressão dos anos trinta. Apontam para o fim da Era da Prosperidade.

Tudo é semelhante. Agrava-se em virtude da rápida propagação das notícias pelos meios instantâneos de comunicação. As boas e as más notícias se divulgam com a mesma intensidade.

As más levam vantagem. São em número maior. Atingem a todos. Já não agridem apenas aos situados no vértice da economia. Chegam à classe média. Retiram as migalhas dos miseráveis, o lupemproletariado.

É o efeito dominó. As pedras sucedem-se na queda. Não se ouve, porém, falar em punições. Ninguém ousa propor uma Guantánamo para os culpados.

No entanto, agressores dos mais elevados valores dos Estados Unidos agiram sorrateiramente durante anos. Amealharam fortunas. Desgraçaram pessoas que neles confiaram.

É claro que o episódio, amargo e estarrecedor, terá conseqüências políticas. A campanha presidencial americana encontra-se em pleno desenvolvimento.

Os candidatos apresentam suas propostas. Examinam os efeitos da crise. Afastam-se das causas. Temem os financiadores de campanhas. Ficam apenas nos efeitos.

A sociedade estadunidense dará sua resposta em novembro. Difícil oferecer resposta antecipada. O eleitorado optará por alternância no Poder? Manterá os republicanos na presidência?

São indagações correntes, mas irrespondíveis. Sequer os analistas bem situados terão conhecimento e intuição para uma análise segura. Só divagar sobre a situação é possível.

Ora, se as incertezas se colocam no cenário político dos Estados Unidos – com repercussão generalizada – o mesmo questionamento mostra-se oportuno para o campo doméstico.

A crise – em meras marolas ou em perfil de tsumani – atingirá o Brasil. Ainda uma vez, espera-se que Deus se mostre brasileiro. É esperança legítima. Permitirá a confirmação das marolas presidenciais.

Aposta-se nas marolas, por patriotismo e sentimento de sobrevivência. O mero mar agitado, contudo, conduzirá à crise econômico-financeira, com todas suas inevitáveis conseqüências sociais.

Como reagirá a política nacional até 2010? Pergunta ainda não formulada sequer à meia voz. Parece politicamente incorreto. Necessária e oportuna, porém. A resposta apontará os futuros caminhos até a presidência da República.

Os acontecimentos futuros poderão atingir os governantes de todos os entes federados, a República, os estados e os municípios. As popularidades poderão despencar. Quanto mais alto o cargo, maior o tombo.

Aí os áulicos se calarão. As críticas crescerão. O povo se afastará. O céu azul se transformará em tormenta. Atingirão alto grau as críticas às políticas públicas em curso.

É só esperar para ver. Após vinte e seis de outubro, data do segundo turno das eleições municipais, o Brasil voltará a contar com oposição. A campanha presidencial vai começar.

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