CASTELOS E TESOUROS


Os castelos possuem inúmeras vertentes simbólicas. Podem indicar um local seguro, onde os inimigos não conseguem penetrar. O espaço próprio dos contos de fada na espera da chegada da princesa. Como também a suprema demonstração de prestígio e força.

A Europa é marcada por castelos. Todos os países europeus possuem castelos de formas diferentes, mas sempre destinados a preservar a intimidade e as riquezas da aristocracia. Foram construídos durantes séculos e se mantém ao longo dos séculos.

Por aqui, os castelos não marcam a nossa geografia. Às vezes, algum excêntrico edifica um exemplar. Todos olham – podem até admirar – mas sentem-se desconfortáveis com o artificialismo da construção. Não tem nada a haver com nossa cultura, clima e tradições.

Apesar destas evidências, nas últimas semanas, encontramos nas páginas dos jornais, nos sites da internet e nos noticiários das televisões a estranha figura de um castelo lançado em plena zona agrícola.

Na sua grandeza, perturbava a imaginação dos mais equilibrados seres humanos. As explicações foram muitas. A mais plausível é sua construção no aguardo da abertura dos jogos de azar. Estes permitidos o inusitado edifício se tornaria um cassino.

O jogo – apesar de praticado por toda a parte – continua proibido e, assim, o castelo tornou-se um imenso símbolo das fantasias nacionais. Sempre se age mediante a malícia de alguns e a fragilidade moral de muitos.

O castelo sem história, tradição, finalidade – pela ausência da legalização dos jogos de azar – transformou-se em símbolo perfeito da vida política contemporânea. Aqui e em toda a parte. Vale aparecer. Ser notado. Esbanjar aparência de riqueza.

Levar vantagem em tudo. Tornou-se mote orientador da existência de muitos. Não importam os meios para alcançar a ostentação. O importante é demonstrar poder. Real ou meramente aparente.

A observação vale para políticos e empresários. Dos políticos exige-se transparência plena. Nem assim em alguns casos a cupidez conhece limites. Muitos empresários não são diferentes. Até parecem piores.

A crise financeira norte-americana é símbolo desta realidade. Dirigentes de instituições financeiras, titulares de altos vencimentos, sem qualquer escrúpulo, fraudaram confianças e romperam valores estabelecidos.

Milhares de pessoas que confiaram nos administradores de seus patrimônios, muitas vezes amealhados em anos de trabalho idôneo, viram-se conduzidos à miséria graças às artimanhas financeiras.

Se as autoridades estadunidenses não agirem contra os petulantes dirigentes de seus bancos insolventes, não haverá condições para se restabelecer o conceito de truste, a tão decantada confiança.

Sem confiança torna-se impossível a preservação de laços entre as pessoas. Surge a inevitável fragilidade ética nas relações e, a partir desta, toda a sociedade é contagiada.

Não bastam os pacotes milionários aprovados pelo Congresso americano. Podem preencher vazios contábeis. No entanto, não fazem renovar a confiança perdida.

Esta só ressurgirá se autoridades judiciais dos Estados Unidos agirem com firmeza e destemor. A passividade até agora demonstrada indica uma ausência de vontade de punir.

Sem punição a fé do cidadão comum na República não se restaurará. Novos fatos acontecerão. Dizem os espanhóis, com sabedoria, que o homem é o único animal que tropeça duas vezes na mesma pedra.

Os Estados Unidos sempre se apresentaram com repositório de valores e princípio. Os últimos acontecimentos demonstram a fragilidade das instituições fiscalizadores do país.

Trata-se de episódios extremamente graves para serem considerados como normais – vale o mesmo para o Brasil. Devem ser examinados com o rigor da lei penal.

Até o momento, o presidente Obama, esperança de todos os povos, exerceu sua ascendência apenas como financiador de instituições insolventes. Tudo bem. O sistema deve voltar a funcionar com normalidade.

Falta agora agir contra os operadores de má-fé, inidôneos e inescrupulosos. Caso contrário, seu patrimônio de credibilidade ruirá. Será mau para os americanos e para todos os povos.

Espera-se do presidente dos Estados Unidos fortes ações contra aqueles que, mediante artifícios virtuais, criaram falsa imagem de pujança financeira e apropriaram-se de riquezas honestamente acumuladas.

A pedra está à frente. Só o homem é capaz de tropeçar duas vezes na mesma pedra.

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