VALE A FOTOGRAFIA


Há situações inusitadas. Demonstram que os costumes se alteraram. E muito. Basta uma leitura superficial dos jornais. Uma vista dos olhos nos noticiários de televisão. Uma rápida busca na internet.

As pessoas já não se comportam com os valores de ontem. Hoje, vale o espetáculo. Imagens são elaboradas. O conteúdo pouco importa. O cenário é apenas o imediato. O pano de fundo não interessa.

Exposta em todos os meios de comunicação sem limites, a reunião do G20 é a melhor demonstração de como se faz política na atualidade. Os chefes de Estado se reuniram para resolver os graves problemas da atualidade.

Procuraram se expor aos meios de comunicação como figuras jovens, alegres e despojadas. Tudo bem. O estadista moderno deve se apresentar leve, popular. Não se assemelha às figuras soturnas do passado.

Assim exige o estado espetáculo surgido com o aparecimento dos meios eletrônicos de comunicação. Os publicitários suplantaram os doutrinadores e os ideólogos.

A mais competente das pessoas nada consegue sem uma competente equipe de criadores de imagens. Eles – os marqueteiros – mostram-se capazes de realizar o impossível.

Transformam um razoável ator em estadista. Um modesto político em notável agente público. Assim é. Com esta realidade deve se conviver. No entanto, cabe a cada um individualmente realizar suas próprias análises.

Tome-se a reunião do G20. Ela foi convocada a partir de uma pauta extremamente amarga. A maior crise suportada pelo sistema capitalista de matriz monetária.

O sistema financeiro, com epicentro nos Estados Unidos, sofreu um abalo sísmico sem precedentes. Ruiu. A concessão de empréstimos sem qualquer rigor conduziu a um consumismo desenfreado.

O consumismo, por seu turno, gerou uma avassaladora onda de aquisição de bens voluptuários. Todos compravam sem limites. Não importavam os ônus. Os saldos dos cartões de crédito são para liquidação futura.

O futuro chegou e, no presente, bancos quebram. Pessoas ficam inadimplentes. A conseqüência direta e imediata foi à perda de postos de trabalho em ciranda constante e contínua.

Milhões de desempregados vagam pelas ruas dos Estados Unidos. Acampamentos de sem teto espalham-se pelas cidades norte-americanas. A Europa não apresenta melhor cenário.

Com uma agravante, os europeus passaram a perseguir os estrangeiros. Não apenas por preconceitos religiosos ou raciais. Sim, principalmente, pelo temor da ocupação de postos de trabalhos pelos imigrantes.

O desespero espalha-se por toda a parte. Na Ásia, países suportados por regimes totalitários, travestidos de capitalistas, os governos agem rudemente contra a população.

Na África contemporânea, produto direto do colonialismo, milhares de pessoas morrem de fome e de doenças com prevenção possível. Esquecidas e marginalizadas.

Este cenário, sem precedentes, no entanto, parece não comover os lideres dos países componentes do G20. Nenhum rosto compungido. Ao contrário. Só sorrisos e alegria.

Abraços. Apertos de mão com a sonoridade de frases de efeito. Rostos iluminados pela alegria de viver. Pouco importam os milhões de desempregados.

Vale a imagem imposta pelos publicitários dos vários governos. Se a imagem é boa, tudo vai bem. Desemprego. Falcatruas financeiras. Estelionatos. Ninharia sem importância.

Os velhos monges medievais impunham a si e a seus discípulos a sisudez na face. Nada de sorrisos. Muitos menos a gargalhada. Ambas as expressões demonstravam pouco juízo.

Não se pode exigir dos dignitários contemporâneos idêntico rigor. Um pouco de compostura perante a tragédia, porém, é indispensável. Muitos dos componentes do G2o pareciam em convescote.

Uma festa entre amigos. Os sofredores das incúrias dos magnatas das finanças pouco importou. Valem pouco. O importante é aparecer bem na fotografia.

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