ESCRAVOS EM PLENA DEMOCRACIA


Segundo pesquisa realizada pelo jornal espanhol El País, em toda a América Latina, o partido político coloca-se como a instituição menos prestigiada pela comunidade.

Em uma longa lista de instituições apresentadas à escolha da preferência e confiança das pessoas, as agremiações partidárias foram lançadas em último lugar.

Poucos admiram esta figura concebida, nos moldes contemporâneos, no fim do Século XIX e que foi, nos períodos posteriores, apontada como indispensável ao desenvolvimento da democracia.

Os partidos, em sua dinâmica interna, seriam formadores de práticas de convivência e favorecem o surgimento de líderes. Verdade em parte. Eles efetivamente permitem o surgimento de novas lideranças.

No entanto, uma vez estabelecidas, estas lideranças apropriam-se de todo o corpo partidário e sugam a seiva de todos os participantes da agremiação. Não há renovação de quadros ou de personalidades.

Basta ver os figurantes da política nacional. Salvo raras exceções, são sempre os mesmos. Nasceram com o fim do regime autoritário e, seguindo este modelo, sufocam todas as novas esperanças.

Os partidos políticos – insubstituíveis na prática da democracia, conforme muitos autores – transformaram-se em núcleos de más práticas e piores exemplos.

Não há partido político intocável. Em todos já ocorreram condenações pela Justiça Eleitoral ou comum. Se tanto não bastasse, muitos de seus integrantes sofrem investigações das autoridades polícias.

É grave o fato. Mais grave ainda é que esta situação afasta os bons das atividades políticas. A pessoa acostumada a viver de acordo com os bons costumes teme ingressar nestas aparentes escolas de maus hábitos.

Alguém dirá – vinculado aos estudos acadêmicos – que o partido político, apesar de todos os argumentos em contrário, repita-se, é indispensável ao desenvolvimento da vida pública democrática.

É possível. Esquecem, no entanto, que a democracia alterou-se profundamente desde o aparecimento dos atuais partidos. Surgiram – para o bem ou para o mal – as ONGs.

As organizações sociais permitiram o exercício da democracia, antes centrada unicamente na figura dos partidos, por meio destes grupos de pessoas, que passaram a representar interesses e posições.

As atividades das organizações sociais não governamentais apresentam-se de maneira permanente e não atuam, pois, tão-somente em períodos eleitorais ou pré-eleitorais.

Se tanto não bastasse, contemporaneamente a publicidade de todos os acontecimentos públicos é imediata e constante, graças particularmente ao rádio, à televisão e à internet.

A sociedade conta, pois, com instrumentos de grande eficiência para o debate de idéias e a concepção de políticas públicas. Já não se limita, para aperfeiçoar conhecimentos, aos velhos jornais impressos pelos partidos.

Houve época em que cada partido possuía seu próprio veículo impresso e, por vezes, as cidades eram inundadas de pequenos jornais de combate, aguerridos e transmissores de idéias e ideologias.

Tudo isto acabou. Salvo a internet, todos os veículos centram suas atividades em empresas regidas pelos valores econômicos e giram em torno da busca do lucro.

Isto impede, muitas vezes, a circulação de novos pontos de vistas e afasta, comumente, a crítica a personalidades e posicionamentos partidários. Não geram novas atitudes ou posições de vanguarda.

Tudo isto somado e acrescido – ainda uma vez da fragilidade partidária – faz com que o descrédito aos partidos e atividade política aumente, apesar da opção pela democracia, claramente apontada pelos povos latino- americanos.

O que fazer? A legislação eleitoral, no cenário brasileiro, deveria adotar o candidato avulso ou independente. Este instituto permitiria que muitos se lançassem no jogo político, com o aporte de novas e autênticas idéias.

Uma vez eleitos, os candidatos avulsos deveriam formar blocos parlamentares. Os partidos políticos permaneceriam. Haveria, contudo, espaço para candidatos autônomos.

Porém, sem o privilégio do monopólio eleitoral, que gera figuras dominadoras, verdadeiros càpi partidários, senhores de vontades e de vidas.

A cidadania deve ser livre de amarras de quem quer que seja. A candidatura avulsa romperia os grilhões partidários, violadores da autonomia de vontades. Forjadores de escravos políticos.

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