RAÍZES


Existem traços da cultura brasileira que são marcantes. Destaca-se o barroco. Originário do espaço ibérico e da Itália tomou formas próprias no mundo sul americano.

Todo brasileiro busca, no decorrer de sua vida, uma viagem a Minas Gerais ou a Bahia, de maneira particular, para ver e se admirar com as belas igrejas e à excelente santuária do período colonial.

São nossas raízes e representam os primeiros esforços de qualificação do cenário artístico em regiões inóspitas e devassadas graças à coragem de figuras destemidas e possuidoras de uma fibra incomparável.

Antes os sertanistas paulistas ingressando por toda a parte e esmiuçando os territórios das Américas espanhola e portuguesa. Depois as povoações e a implantação das primeiras cidades.

Nas cidades as torres das igrejas eram documento civilizatório e indicativo de prosperidade. Em seguida, a busca do belo. No interior dos templos imagens esculpidas por estrangeiros e pelos naturais.

As paredes revestidas de pinturas evocativas de cenas bíblicas mescladas com a vegetação e animais tropicais. Um cenário de encanto no interior da imensidão das matas e sertões.

Visitar Tiradentes, Ouro Preto, Mariana, Congonhas, em Minas Gerais, ou Salvador da Bahia permite momentos de encantamento e reflexão histórica. Fomos capazes de muito.

Criou-se uma civilização nos trópicos. A gente foi capaz de integrar múltiplas etnias e visões do mundo em um imenso espaço geográfico. Apesar dos pesares, geramos uma nação.

São nossas raízes. Elas se espalham com maior esplendor ou em pobreza cativante por todo o território. Em São Paulo, por exemplo, as velhas igrejas são sóbrias. O barroco paulista apresenta-se singelo.

Isto não importa. O importante é se captar que uma vontade poderosa uniu os primeiros brasileiros por meio da religião e esta concebeu templos indicativos dos valores presentes no inconsciente coletivo.

Ora, quem visita templos antigos dispersos pelo Brasil sempre encontra um adulto ou jovem pronto a descrever as cenas pictórias ou apontar para as esculturas mais significativas.

Tudo é exposto com grande ênfase e maior emoção. Lá está a escultura de Bom Jesus ou a figura do Divino Espírito Santo – devoção hoje retomada, graças à televisão e suas novelas.

Há um momento que provoca a alegria do guia – turístico e dos visitantes. É quando se apresenta um “santo de pau oco”, aquela escultura que, segundo a tradição, servia para enganar o colonizador.

A escultura, de exterior belo e edificante, era vazia no seu interior. Lá os habitantes da terra escondiam ouro ou pedras preciosas, na busca de fugir dos tributos impostos pelos administradores da Corte.

O guia exalta-se ao apontar a figura do “santo do pau oco”. Os visitantes – contribuintes da República – tornam-se sorridentes por captar que, em passado remoto, seus antepassados agiam exatamente como eles.

Ou seja, burlavam o Fisco. Daí – quem sabe – surgiu um dos traços do caráter nacional: a fuga fiscal planejada pelo contribuinte da birosca mais humilde ou da mais sofisticada empresa.

Até aqui apenas registros históricos e aproximações entre o passado remoto e o presente trepidante. Há mais, porém, a demonstrar que valores não são expelidos com facilidade.

Os meios de comunicação, nesta última semana, sem alvoroço ou chamadas sensacionalistas, noticiaram fato que mostra ligação entre ontem e hoje.

No Rio de Janeiro – mais precisamente em Senador Camará – policiais encontraram trinta e oito imagens de Nossa Senhora da Aparecida. Até ai nada de anormal.

A santa, amada pelo povo, representa a protetora dos caminhos trilhados pelos brasileiros. Nobre e edificante, pois, o achado. Nada disto, porém. As imagens de gesso eram sucessoras dos “santos de pau oco”.

Continham, em seu interior, pacotes de maconha, esta erva que, pelo jeito, substituiu o ouro esgotado em nosso subsolo. E há quem queira descriminalizar o uso da maconha!

Estes, “santos do pau oco” não entenderam que este vício, que destrói mentes e dignidades, hoje é ouro no mercado. Descriminalizado levará à derrocada do que resta de equilíbrio e respeito na sociedade.

print