A SARI’A – O CAMINHO


Os meios de comunicação, nos países ocidentais, oferecem uma visão distorcida dos acontecimentos que vêm se desenvolvendo no mundo muçulmano.

Os países do Islam – árabes ou de outras etnias – são considerados despidos de História e repletos de tribos pouco afeitas ao convívio com a Europa e Estados Unidos.

É meia verdade. Todos os países muçulmanos, particularmente os situados na Península Arábica sempre mantiveram fortes vínculos com o Ocidente.

Estes vínculos mostraram-se, em passado recente, com nítido corte colonialista, onde as intrigas diplomáticas e os tratados secretos contrários aos interesses árabes eram constantes.

É sempre oportuno registrar o tratado secreto entre franceses e ingleses – Tratado Sykes-Picot – que escondia uma ação contra a eventualidade do surgimento de uma nação árabe comum.

Publicamente, ambos os países, França e Inglaterra, apoiavam o surgimento de um mundo árabe unido e concomitantemente, mediante ações sob-reptícias apoiavam revoltas locais contra este objetivo.

Imagem desta insídia é Thomas Eward Lawrence – Lawrence da Arábia. Esta figura de herói romântico com aparente apoio dos ingleses lutou pela unidade árabe.

No entanto, à sua revelia, a fragilização da luta comum era boicotada por seus conacionais ingleses. Lawrence, ao conhecer a traição, deixou a vida militar e não aceitou condecoração concedida pela Rainha de seu país.

É apenas um episódio. Ele se repete em outro contexto com Sadam Hussein, antes um aliado dos interesses norte-americanos e depois sentenciado à morte no decorrer da ocupação do Iraque.

Inumeráveis são os fatos próprios da vida política dos países árabes e dos muçulmanos em geral. É bom recordar que Mustafá Kemal, o reformador da Turquia, por isto chamado Atarurk, o Pai dos Turcos, tornou-se, após suas intervenções, um duro ditador.

Estas considerações possuem um único objetivo. Trazer à reflexão elementos capazes de permitir a compreensão dos episódios políticos atualmente em curso no mundo árabe.

Há certamente mal estar contra ditaduras envelhecidas e grupos de aproveitadores da administração pública. Estes podem ser oriundos de antigas famílias aristocráticas ou de movimentos político-militares com traços modernizantes.

A diferença é de roupagem. Todos, com louváveis exceções, são operados pelos interesses dos países centrais e especialmente das empreses petrolíferas.

Daí se imaginar que as revoltas em desenvolvimento se assemelham, como querem alguns europeus, com a Revolução Francesa, é excesso de imaginação.

As lutas populares em 1789 foram precedidas de muito conflito de ideias e forte combate à religião dominante na França, o catolicismo. Existia um componente nacionalista simbolizado na luta contra a Áustria.

No mundo árabe, em termos de sociedade, o grande motor da História é o desapreço aos países colonizadores e suas práticas. Este anseio de autoafirmação desembocará, em níveis diversos, em uma fonte: a religiosa.

É ingênuo esperar-se uma modernização – ao estilo ocidental – em todos os países em ebulição. O Ocidente perdeu a religião. O Islam tem na religião os elementos de sobrevivência. Há um conflito de modos de vida entre as duas realidades sociais.

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