TODO O EXCESSO É PERIGOSO


Não há espaços para divagações. O panorama econômico agrava-se a cada dia. Não bastassem todos os absurdos praticados pelos operadores financeiros, estes agora começam a abandonar o barco.

O alemão Jürgen Stark, economista chefe do Banco Central Europeu, por não aceitar a compra dos bônus emitidos pela Espanha e Itália, pediu demissão.

Cada um a seu modo, todos os países da zona do euro se encontram envolvidos em situações econômicas graves. Adotaram, sem limites, políticas neoliberais extremadas. Agora recolhem as conseqüências.

Estas são graves e podem conduzir a uma situação imprevista para a economia mundial. Os economistas sempre se mostraram loquazes e otimistas nestas últimas dezenas de anos.

Agora, a partir da capitulação de Jürgen Stark, é possível que uma nova fase de oratória financeira se inicie. Até há pouco os operadores financeiros pareciam possuidores da pedra filosofal.

Eles transformavam papel pintado em ouro. Fabricavam ilusões. Mostravam-se como senhores de toda a verdade. Esqueciam as mais elementares lições recolhidas em todos os tempos.

A empáfia está cedendo lugar à depressão. Todos os países centrais se encontram no interior de profundas crises financeiras. Atolados em dívidas produzidas pela aplicação em atividades improdutivas.

Para salvar as aparências, diminuem salários. Reduzem os serviços sociais. Praticam despedidas em massa. Esquecem todos os valores da solidariedade social.

Tudo isto é lembrado para que não se repitam, por aqui, os erros cometidos pelos chamados países centrais. Estes se lançaram em novas formas de colonialismo.

Abandonaram a ocupação física de outros espaços geográficos. Optaram pela conquista mediante a aplicação de instrumentos financeiros. Geraram a ilusão financeira.

Da ilusão financeira nasceu a desigualdade entre as pessoas e classes. Os dirigentes pomposos e arrogantes conduziram, no interior de aparentes democracias, seus povos ao desespero.

Os novos modelos econômicos aplicados – a partir de um falso liberalismo econômico – levaram ao surgimento de imensos monopólios. A boa e sã livre concorrência foi marginalizada.

Hoje sob o argumento dos custos operacionais e financeiros empresas são incorporadas. Grandes conglomerados surgiram por toda a parte e foram saudados como grandes conquistas.

Certamente, para os acionistas majoritários. Os pequenos acionistas tornaram-se servos das companhias e a sociedade mero campo de captação de recursos.

É momento de se repensar uma série de procedimentos equivocados. De se exigir mais humildade aos operadores financeiros. Ainda maior rigor das autoridades constituídas.

É cansativo observar que a maioria dos dirigentes das instituições financeiras oficiais, após ocupar cargo público, passa a posição de relevo em empresas financeiras privadas.

A passagem ocorre apenas com a observação de um mínimo espaço temporal. Tudo é quase imediato. Assim, crises, que poderiam ser observadas com antecipação, explodem sem salvaguardas.

É a esdrúxula e pecaminosa promiscuidade entre o público e o privado. Esta se dá por inúmeras maneiras. Uma delas é a pronta transferência do agente público das áreas financeiras para o setor privado.

A dominação é plena. Daí a ausência de coragem para se tomar atitudes em momentos dramáticos. Os remédios agridem os interesses consolidados. Aos amigos.

Aguardam-se atitudes firmes e decididas do governo federal. Deverá ouvir os clamores que vêm de fora e as angústias interiores sem dar importância para as exposições daqueles que, diariamente, apenas trabalham para o interesse de uns poucos.

Só a sensatez e a coragem cívica poderão afastar o pior. Este ronda nossas portas. Só o tolo não aprende com a desgraça alheia.

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