EUROCETICISMO


Entre seus instrumentos de trabalho, a política arrola o método comparativo. Toma-se uma específica situação e ela é aproximada de outra com contornos análogos. Pode-se eventualmente obter novas visões.

Os institutos e as ações que deram certo – ou errado – em determinada circunstância em certa sociedade podem servir de elemento de reflexão para outras comunidades em situação correlata.

Até hoje se analisam os textos dos filósofos gregos, quando se fala em democracia, apesar da imensa diferença existente entre as condições da Grécia clássica e das sociedades de massa da atualidade.

Outras vezes, as aproximações são muito salutares. A onda de descolonização ocorrida em toda a América no século XIX, a partir dos movimentos liberais europeus, foi sadia e oportuna.

Os influxos advindos diretamente da Constituição de Cádiz permitiram a explosão da ânsia de liberdade, na época, existente em toda a América, particularmente a Ibérica.

Os regimes fascistas, por seu turno, conduziram os povos sul-americanos a experiências de profundo significado. O sistema sindical, com todo seu aparato burocrático, é produto direto do Estado Novo brasileiro.

Este se inspirou nas bravatas de Mussolini e, em alguns traços, no próprio nacional-socialismo. Depois, uma onda de democracia varreu o continente. O passado, então, se rompeu. Os brasileiros foram combater o nazifascismo em território europeu.

São tantos os exemplos de comparações – algumas exitosas, outras negativas – que seria exaustivo procurar numerá-las. Cabe, porém, recordar que, nos últimos decênios, a moda em curso era louvar a União Europeia, um exemplo de arquitetura política.

As universidades nacionais esgotaram a paciência de seus docentes e discentes com palestras especialistas do eurocentrismo. Todos se apresentavam como luminares do saber. Vitoriosos.

A História, porém, é repleta de surpresas. Os latino-americanos sempre foram fiéis receptadores de todo o pensamento oriundo da Europa. Europeu falou: É bom.

Trata-se de uma velha carga hereditária originária do domínio dos latifundiários. Estes recolhiam toda seiva da terra e do povo nativo. Embarcavam todos os anos para Paris e outras cidades do Velho Continente. Iam esbanjar a plus valia.

Chegou a vez de exportar institutos adotados pelos latino-americanos que deram certo. Seria oportuno que os europeus abandonassem a empáfia da burocracia de Bruxelas. Recolhem-se bons ensinamentos úteis em terras cobertas por florestas úmidas.

Não podem múltiplas nacionalidades e estados soberanos conviver com eficácia se não adotarem regras comuns de preservação da higidez econômica. Faltou aos europeus uma rígida Lei de Responsabilidade Fiscal.

Todos se puseram a gastar sem limites. Pensaram haver descoberto a pedra filosofal. Tudo se transforma em ouro. Era extasiante viver a nova riqueza. Parecia que se renovavam as operações de saque às colônias, tal como no passado.

No cenário político interno de cada Estado nacional, parlamentos discutiam o nada. Não resolviam coisa nenhuma. Faltava a firmeza própria do presidencialismo, onde as tarefas do Estado são divididas com nitidez.

No presidencialismo, o Executivo opera. É fiscalizado e exigido. Não há a fragilidade das formações parlamentares. Os eleitores brasileiros – sabiamente – por duas vezes optaram pelo presidencialismo.

Foram mais sagazes que alguns falsos intelectuais – com formação francesa – que desejaram impor ao País um regime de irresponsabilidades. Certamente, um dos fatores do caos europeu atual.

Faltou aos europeus a coragem de conceber uma federação com autonomias definidas e governo central originário dos eleitores dos Estados federados.

Ao contrário: uma Comissão Europeia dominada por quadros da Alemanha e da França impos uma nova “ocupação” generalizada a todas as nacionalidades. O Parlamento europeu mostrou-se mera ficção jurídica.

Será difícil a manutenção do atual cenário. Levará ao inevitável choque entre povos, como da tradição europeia. É só esperar.

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