A TRAGÉDIA ANUNCIADA


Os dramáticos acontecimentos ocorridos em Paris, na primeira quinzena de novembro, só podem receber repulsa de qualquer pessoa.

O estúpido sacrifício de vidas é sempre repugnante. Inaceitável. A primeira vista merece plena censura. Não pode ser diferente.
Cabe, porém, sempre buscar as causas de feitos tão fora da normalidade, como o brutal ato de Paris. Não é tarefa difícil.

O Ocidente age com profunda empáfia quando lida com os povos fora de seu espaço geográfico. Nada mais difícil que dialogar com alguns europeus. Sente-se, no mais das vezes, um ser superior, abençoado pelos deuses.

Vencido o primeiro momento de dor, amplamente apresentado pelos meios de comunicação, torna-se oportuno a realização de reflexões suportadas no conhecimento comum.

Há séculos o Ocidente cristão – é bom recordar as cruzadas – atinge o Médio Oriente de maneira agressiva e desrespeitosa. Mata. Pratica rapina. Foi assim através dos tempos. No após Renascença, a esplendorosa cultura árabe implantada na Andaluzia foi objeto de um grave extermínio imposto pelo fanatismo religioso católico.

Nos tempos modernos, o colonialismo dos países europeus – com a soberba habitual – impôs as práticas intervencionistas, ferindo as ricas tradições do Império Otomano e realizando uma partilha sem qualquer observância de valores e costumes de cada povo.

O petróleo – esta praga – fez com que a sanha ocidental sempre estivesse presente nos vários espaços do Médio Oriente, ferindo, na sua busca, populações indefesas e corrompendo dirigentes.

Este quadro perverso atingiu seu ponto alto na desastrosa intervenção militar no Iraque, derrubando o dirigente favorável a boas relações com o Ocidente.

A mesma situação se deu na Líbia, onde um ditador ligado a governantes ocidentais foi derrubado por razões nem sempre esclarecidas em seu mérito.

Ai começou a farsa da Primavera Árabe. Um processo gerado no Ocidente e sem raízes profundas entre as populações médio-orientais.

Gerou instabilidade e a queda de governantes. A par de todas estas situações, o pior ainda veio a acontecer. As dramáticas intervenções na Síria com o bombardeamento indiscriminado das populações civis.

É o caos estabelecido. Todas as potências se acham livres para agir indiscriminadamente. A sociedade local, atônita, buscou o caminho da fuga. Um dramático acontecimento.

Quantos morreram em terra pelos bombardeamentos? E nas águas do Mediterrâneo? São incontáveis as vítimas inocentes.

Os que fugiram para a Europa, na maioria das vezes, encontraram cenário hostil pelas populações receptoras. Foram e são marginalizados.

Jogados nas periferias e sem obterem colocações em postos de trabalho. O preconceito contra os refugiados se encontra presente por toda a pare.

É claro que este cenário histórico remoto e presente só poderia levar a uma conseqüência o desespero e a violência.

O terrorismo é bárbaro, o colonialismo perverso.

A Europa paga por seu passado. É uma tragédia.

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