ELES PASSARAM


Os jornais impressos estão repletos de análises sobre o pleito de outubro último. Apontam os resultados. Somam as prefeituras obtidas por partido político e definem os vitoriosos, com critérios muitas vezes subjetivos.

Dividem-se os analistas de acordo com suas opções partidárias e, ai, os desamores surgem com grande dimensão. Os petistas registram suas vitórias e as conseqüentes derrotas dos adversários.
Os tucanos apontam os defeitos das formas dos adversários promoverem campanhas eleitorais. Só os outros são pecadores. Um tucano nunca se equivoca.
Nesta dialética repleta de rancor, onde sobram reprimendas para todos os demais partidos, faltam olhos para ver a realidade. Outubro de 2012 foi revolucionário. Deu novos rumos para a história do país.
Dois acontecimentos se somaram e correram em paralelo. A campanha eleitoral e o julgamento do processo 470 – o mensalão – pelo Supremo Tribunal Federal.
Os dois episódios possuem carga política de alta intensidade. No Supremo Tribunal Federal foram julgados os dirigentes maiores do PT. No pleito debateram-se figurantes dos trinta partidos existentes.
Até ai nada de anormal. Eram as instituições funcionando com normalidade. A Justiça, ao julgar o processo 470, demonstra sua plena autonomia e sua capacidade de agir com independência.
Os partidos políticos, por seu turno, com ampla liberdade de atuação, ofereceram seus candidatos ao julgamento cívico dos eleitores. Estes responderam de conformidade com suas convicções.
Aqui o ponto de reflexão. Acompanhando o julgamento em curso no Supremo Tribunal Federal e recolhendo o resultado das urnas, particularmente, em São Paulo, obtêm-se uma constatação.
Os grandes figurantes de 1968, quando a luta armada apresentou-se em várias regiões, foram julgados pela Justiça e condenados. O povo, por sua vez, os afastou do palco político por meio do voto popular.
Antes, no decurso dos acontecimentos, os figurantes de 1964, ano do golpe militar, que instalou o autoritarismo no país, tinham se recolhido às suas missões tradicionais.
Veio a Constituição de 1988, precedida pela Anistia, e as conseqüentes vitórias sociais obtidas pelo povo brasileiro. Apesar do ambiente de tranqüilidade e sabedoria política existente, alguns insistiam.
A insistência consistia em usar episódios do passado como argumento para campanhas eleitorais. A repetição de fatos pretéritos como conquistas pessoais tornaram-se enfadonhos.
O eleitor – jovem e arejado – já não quer ouvir falar de exílios no Chile ou em Cuba. São coisas para serem registradas pela história. Não podem ser objeto de comiseração. Cansa.
Ibiúna, hoje, é um aprazível município paulista. O que ocorreu, quando de Congresso da UNE, lá em 1964, já não empolga as gerações contemporâneas. Araguaia é parte do Brasil amazônico.
Assim, em outubro, constatou-se, ainda uma vez, que os brasileiros não apreciam heróis. Sabem que heróis vivos não permitem o normal curso dos acontecimentos.
Não se deseja condutores com vontades passadas. As sociedades querem avançar. O passado não pode ser esquecido. Mas, também não pode engessar o presente.
Principalmente em uma sociedade jovem que a cada dia se renova e avança. Ela tem questões atuais para resolver. Graves, mas diversas das postas pelas personalidades de 1964 e 1968.
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