MAUS ENSINAMENTOS


Os sofrimentos causados pelos europeus por toda a América Meridional foram imensos. Todas as formas de aviltamento da pessoa foram utilizadas.

Nada mereceu esquecimento. As culturas locais desprezadas. As civilizações estabelecidas destruídas. Os cultos religiosos perseguidos. Um horror que se estendeu por toda a região.
Muitos povos mereceram maiores humilhações. Aqueles que possuíam valores mais característicos e expressivos. É o caso dos incas, maias e astecas.
Os índios brasileiros também sofreram. Basta tomar o Manual do Confessor utilizado pelos colonizadores. Práticas naturais tornaram-se pecaminosas. Costumes mereceram penalização.
Em matéria de crenças, os marranos e os mouriscos – judeus e muçulmanos – convertidos por meios impositivos eram perseguidos e submetidos às violências inquisitoriais.
Tudo se fazia a partir de um pressuposto simples: “Uma fé, um rei, uma lei”. Quem estivesse fora desta trilogia era considerado herético. E, a partir desta assertiva, submetido à dura lei.
A Inquisição, concebida no século XII, foi instrumento de dominação que uniu a espada do reino e a espada da religião contra todo aquele que se opusesse à vontade do rei e da hierarquia.
Aqui, na América de colonização ibérica, a Inquisição conheceu duas maneiras de atuação. Na América Espanhola estabeleceram-se Tribunais do Santo Ofício.
Na parte portuguesa, felizmente, não se conheceu a presença de tribunais permanentes. Apenas visitadores correram a vasta área dominada pelos lusitanos, a procura de pecadores.
Isto, porém, não impediu de brasileiros terem merecido envio para metrópole e lá submetidos aos horrores da fogueira purificadora, como é o caso de Antonio José, o teatrólogo.
Mesmo que entendida de acordo com os contornos dos períodos históricos de sua longa duração, a Inquisição é sempre registro inconcebível. Ninguém pode baseado em sua crença, eliminar outra pessoa.
Esqueceram seus agentes que para a defesa da fé melhor é a promoção da doutrina. Ao menos assim entendeu o Papa Paulo VI ao dar continuidade aos trabalhos do Concílio Vaticano II no ano de 1965.
Antes, muito antes, porém, no ano 1252, o Papa Inocêncio IV autorizou práticas, desde então utilizadas por muitos governos em determinadas oportunidades.
Inocêncio IV oficializou o uso da tortura para quebrantar a resistência dos acusados. A partir desta diretiva, o exercício da violência oficial contra adversários tornou-se costumeira na Europa e espalhou-se pelas Américas.
São cenas históricas pouco recordadas neste Século XXI. Muitos querem esquecer as práticas inquisitoriais presentes até o alvorecer das idéias liberais nos primórdios do oitocentos.
Confortador saber que na cidade de Lima, capital da República do Peru, em uma de suas principais praças, exatamente onde se localiza o Congresso Nacional, há um expressivo museu.
Trata-se do “Museu da Inquisição e do Congresso”. É instalado no edifício que serviu de sede ao Tribunal do Santo Ofício nos tempos da colônia. Lá, é admirável o zelo para a preservação da triste realidade.
Todos os instrumentos de suplício utilizados pelos inquisidores se encontram retratados em figuras de cera. É amargo e ao mesmo tempo revoltante visualizar até onde vai a maldade humana.
As duas Américas – a espanhola e a portuguesa – estiveram durante séculos de costas uma para a outra. Agora, quando os meios de transporte e comunicação aproximam às pessoas, é útil captar o que temos em comum e o que podemos reciprocamente aprender.
Lima ensina o que fizeram os colonizadores, a partir de 1570, ao instalarem a dor e o medo, por meio de seus instrumentos de tortura, em nome da religião.
É bom recordar o passado neste tempo de sucessão em Roma.
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