O PASSADO E O PRESENTE


Passaram-se vinte e cinco anos da promulgação da Constituição de 1988, a Constituição coragem, no dizer do deputado Ulysses Guimarães. Aproxima-se o cinquentenário dos acontecimentos de março de 1964.

Duas datas históricas absolutamente conflitantes. Na primeira, indicativa do documento constitucional, há muito que comemorar e rememorar. Os trabalhos constituintes, que levaram ao texto maior, foram ricos de participações populares, inusitadas no nosso passado.

Todos os segmentos da sociedade compareceram ao Congresso Nacional, transformado em parlamento constituinte, e registraram opiniões. Impuseram novas visões. Obtiveram conquistas.

Uma confraternização democrática como, antes, jamais conheceram os brasileiros. O texto maior é longo – por vezes barroco – mas registra todos os anseios da coletividade represados por muitos séculos.

A segunda data, que transcorrerá em março do próximo ano, aponta para um momento de inflexão no processo democrático. Personalidades foram afastadas do convívio político.

Tradições soterradas. Partidos políticos com raízes sólidas, lançadas em dezenas de pleitos eleitorais, foram extintos. As conseqüências do Ato Institucional n. 2, aquele que baniu as agremiações partidárias, encontram-se presente na vida contemporânea.

Até hoje, passados tantos anos da redemocratização, ainda não se obteve um espectro confiável de partidos políticos. No lugar das tradições armazenadas pela UDN, PL, PRP, PSD e outros, surgiram agremiações muitas vezes frágeis e sem qualquer identidade doutrinária.

Pouco analisado, o Ato Institucional n.2 causou um terremoto político sem precedentes. Lançou-se contra instituições perenes, as pessoas jurídicas representativas dos partidos.

Há muitas comissões examinando atos do período pós 1964. Nenhuma se debruçou, contudo, sobre o genocídio – por força de expressão – das pessoas representativas dos múltiplos segmentos da sociedade.

Foi dramático. Romperam-se vínculos históricos entre militantes. Havia uma nítida diferença de atitudes e ações em cada agremiação. Os seus lideres expressavam pensamentos nítidos e distintos.

Hoje se tem uma geléia. Todos são iguais nas aparências e na essência. Uma busca desenfreada pelo poder, nenhuma preocupação com idéias. É sempre o mesmo bla, bla, bla. Um falta absoluta de oração principal.

Todas as reflexões demonstram que as pessoas não devem ser apaixonar pelo exercício do Poder. Quando este é exercido sem qualquer limite – por melhor que sejam as intenções – dá errado.

Felizmente, passaram-se cinquenta anos contados desde 1964. Praticamente, duas gerações se sucederam. Os jovens olham aqueles acontecimentos como quem estuda s lutas durante o Império.

Demonstram, quando o fazem, mera curiosidade. Raramente produzem juízo de valor. Os idosos, quando sofreram, merecem o reconhecimento da cidadania.

É isto que tem acontecido. É dever, agora, das personalidades representativas atuarem para que se avance na reflexão sobre temas sociais, políticos e a respeito de estudos de todas as formas de autoritarismo.

Ir muito além é gerar inconformismo ou eventuais novas agressões contra a dignidade da pessoa. Dizem: o passado nem Deus muda. Deve ficar para sempre nos registros da História. Não esquecê-lo. Remoe-lo, porém, não leva à catarse coletiva.

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