A VITÓRIA DO CRIME


Uma sociedade órfã. Os titulares dos vários postos do Executivo parecem alheios à realidade. A coletividade se encontra à mercê dos delinqüentes. Soltos nas ruas ou agasalhados nos serviços públicos.
Não é fácil reconhecer os mais perigosos. Seriam os que, a céu aberto, afrontam a integridade física dos cidadãos prestantes? Ou os que, no interior das repartições governamentais, corrompem e subtraem.
Em um juízo preliminar, conclui-se que o servidor público seguramente é o mais perigoso dos criminosos. Fere o vínculo de confiança que deve existir entre a cidadania e o Estado.
Quando este liame se rompe – o da confiança – instala-se a fragilidade moral e esta, aos poucos, faz ruir todo o arcabouço social. É a situação presente na atualidade nacional.
Ninguém acredita em ninguém. Tudo é falsidade. As palavras dos administradores públicos. As relações entre particulares. A pregação de alguns lideres religiosos. A notícia estampada ou falada.
Quando tudo se torna frágil, os governantes também se tornam fracos e conseqüentemente imobilizados. Se os chefes dos Executivos caminhassem pelas cidades e campos captariam o que a sociedade pensa de cada um.
Não é nada lisonjeiro. Bem ao contrário. Os adjetivos são altamente agressivos. O tom das vozes repleto de rancor. Há um desamor coletivo que ocupa todos os espaços da consciência cidadã.
Nos palácios, os acólitos – representados especialmente pelos marqueteiros de plantão – apresentam para os governantes um quadro celestial. Sempre foi assim. Só os ingênuos acreditam nos bajuladores.
Como quem está no Poder não se pode dar o direito à ingenuidade, existe uma efetiva situação de má-fé nos três níveis federados. Todos apontam para as benesses de suas administrações.
Espantosos números da violência aparecem no cenário nacional. Os casos de corrupção crescem em assustadora progressão geométrica. Os governos mantêm-se imóveis.
Há mais. Houve ocasiões em que as Igrejas combatiam pela dignidade humana. Lutavam contra as agressões a integridade física das pessoas. Agora, também aqui há silêncio.
Há um pacto generalizado – talvez tácito – entre os detentores de qualquer parcela de Poder. Silenciar para poder viver confortavelmente. Enquanto for possível.
As manifestações de rua não sensibilizaram a ninguém. Tudo, logo em seguida ao grito popular, tornou-se mera dança de marionetes. O Congresso Nacional prometeu regeneração. Não aconteceu.
O Executivo convocou cadeia nacional de rádio e televisão. Foi só. Apenas mais um espetáculo. Tudo permanece igual e sem resposta. O contribuinte exigido cada vez mais.
Os titulares de cargos públicos parecem não conhecer a História. Em todas as ocasiões em que a vontade popular, por muito tempo, foi desconsiderada, verificaram-se acontecimentos traumáticos.
Qual será a fagulha não é possível antever. Pode-se, porém, imaginar que a fragilidade moral dos tempos em curso terá um preço. Tomara que este seja pago pelo resultado das urnas em outubro do próximo ano.
Resta à cidadania o direito de votar. Poderá buscar novos caminhos. Abster-se, indicando seu desamor. Ou votar em massa em opções até aqui não tangíveis.
Uma coisa é certa. A situação vigente terá um preço. Qual será este é a incógnita.
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