A EDUCAÇÃO PREOCUPA


As mudanças na estrutura social brasileira verificam-se com velocidade extraordinária. Os segmentos estruturados há séculos romperam-se nestes últimos cem anos.

Muitas podem ser as variáveis para as alterações verificadas. Certamente, na região sul e sudeste, é de se considerar a imigração de europeus, particularmente italianos.

Alteraram os costumes e trouxeram em suas bagagens a tradição de trabalho livre, sem as amarras anteriores a 1888. Exigiam de seus descendentes dedicação e esforço na busca de ascensão social.

Os demais segmentos imigratórios – japoneses, árabes, espanhóis, entre outros – foram em número inferior e, cada um, o seu turno, agregou novos valores às tradições lusitanas, indígenas e negras.

O fluxo interno de pessoas, a partir dos anos sessenta, ampliou-se com os grandes deslocamentos de pessoas. Estes permitiram a plena integração da comunidade nacional.

Hoje, preservadas as raízes de cada grupo social, uma sociedade multicultural se desenvolve com dinamismo e preservação de muitas características próprias, o que dá ao Brasil um colorido especial e único.

Esta sociedade heterogênea quanto às origens e homogênea quanto os objetivos, passou a exigir – cada vez mais – escolaridade e educação continuada para seus membros.

Nos anos setenta, romperam-se as barreiras que vedavam o acesso ao ensino universitário a milhões de brasileiros. Antes, este acesso era limitado aos filhos das elites econômicas.

A grande mudança, abrindo a iniciativa privada a exploração da educação, desafogou os vestibulares das instituições públicas. As greves patrocinadas pelo movimento estudantil cessaram.

No jargão da época, até hoje repetido, ocorreu uma democratização do ensino. É possível. Hoje, a maioria dos jovens busca se aperfeiçoar em cursos oferecidos por uma enormidade de escolas superiores.

Acontece que natureza, como a educação, não dá saltos. O aumento de vagas não foi acompanhado pela qualificação dos professores. Deu-se a improvisação. Esta sempre leva a resultados duvidosos.

Os cursos das ciências humanas multiplicaram-se. Faculdades de Direito foram criadas em regiões sem qualquer vocação para as disciplinas jurídicas.

Poderá ser afirmar que é melhor o aprimoramento em escolas de duvidosa qualificação do que se permanecer em cenário iletrado. É possível, mas não é oportuno.

A meia ciência pode produzir grandes malefícios. É o que se nota nos resultados publicados pelo Ministério da Educação a respeito do ensino superior no País.

Há um grande esforço para se qualificar a docência universitária. Ocorre que um bom professor é produto de anos de dedicação e estudo metódico.

Não se formam professores como se produzem salsichas. É bem diferente. O ensino nacional, como por toda a parte, vai se tornando uma atividade meramente comercial.

As escolas tornaram-se fábricas de diplomas. Estes obtidos mediante cursos presenciais – com o professor dialogando com seus alunos – ou à distância, por meio de sistemas televisivos e ajuda da internet.

Vai se massificar cada vez mais o ensino ou como querem alguns a sua democratização. Poucos, porém, são os centros de excelência que se preservam.

A velha universidade, que se constitui em centro de meditação e aprimoramento, transformou-se em estrutura burocrática de alto custo e duvidosa qualidade. Muitas vezes, mero cabide de empregos.

Com o tempo, as instituições devem se aperfeiçoar. Não será um processo natural. Intervenções cirúrgicas serão exigidas, cada vez mais.

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