TEMPO DE NOVAS ATITUDES


São tantos os calendários. Desde os tempos mais remotos, o ser humano preocupa-se em dividir o tempo. A eternidade – essência do tempo contínuo – leva à fragilidade.

Daí o esforço de todas as civilizações em criar espaços temporais definidos. A nossa – somos civilizados?- adota o Calendário Gregoriano desde 1582.

Concebido por um médico calabrês, Antônio Lillio, o chamado Calendário Gregoriano é adotado internacionalmente para assuntos comerciais. No entanto, muitos povos mantém suas próprias divisões do tempo.

Se os espanhóis não houvessem martirizado os povos pré-colombianos, hoje não estaríamos comemorando os primeiros dias do ano. Muito pelo contrário, nossos olhos se voltariam para o firmamento em busca de novos tempos.

O imponderável se localizaria na leitura da movimentação dos astros. Os meses seriam de vinte dias e somariam um período anual de dezoito meses.

Cada mês do calendário azteca, por exemplo, correspondia a um deus e este era comemorado com festas. Os cinco dias finais de cada ano eram considerados nefastos. Neles, o trabalho era proibido.

Os brasileiros se excederam na proibição ao trabalho. Aproveitam os dias finais de cada ano, o Carnaval, os feriados cívicos e os religiosos. Uma grandeza de ócios.

Talvez, este excesso de feriados possua raízes ancestrais. A civilização européia não se vinculou a vida nos trópicos. Aqui, o calor impede a especulação filosófica.

Busca-se conviver com o dia-a-dia e obter o sustento mínimo necessário para a sobrevivência. A humanidade tropical adapta-se melhor ao pragmatismo. Só o inverno permite a elucubração filosófica.

Ninguém resiste ao ar úmido. Cai na primeira lagoa que encontra. É impossível transferir com sucesso valores de outras civilizações para estas terras.

Basta tomar o noticiário deste período para se constatar que todos desejam água, seja do mar ou dos rios, lagos ou lagoas. Desde a presidente da República até o porteiro do Palácio, todos se lançam nos braços de Iemanjá ou da Iara.

Muitos – particularmente a minoria branca – não compreendem esta realidade. Querem ser setentrionais abaixo e acima do Equador. Não dá certo. A rejeição é inevitável.

Basta ver as fotografias de nossas autoridades no decorrer, principalmente do Segundo Reinado e da Primeira República, para se constatar o ridículo de nossos antepassados.

Aquelas figuras de fraque, em pleno verão do Rio de Janeiro, apresentam-se ridículas e extravagantes. O Imperador Pedro II, com suas vestes incomodas, foi o precursor das longas férias de nossos deputados e senadores.

Mais viajou do que governou. Produto do ócio.  Antes, seu avô, D. João VI, mais inteligente que seus descendentes, andou desalinhado pela capital do Reino, de maneira displicente, como convém a um habitante dos trópicos.

Tudo isto aponta para um só fato. Viver nos trópicos exige uma mentalidade própria. Imitar outros povos só leva ao ridículo e ao desapreço à realidade.

Neste início de novo período do calendário comum, é bom fazer reflexões e buscar entender os verdadeiros valores que formam a cultura nativa. Deixar falsos pudores de lado e adotar a nossa efetiva personalidade.

Chega de copiar franceses, depois ingleses e ultimamente americanos. Vamos assumir nossa identidade. Nada pior que a falsa personalidade. Ou a dupla personalidade.

Vamos ser autênticos. É tempo de assumir nossas boas qualidades. Um ano novo exige novas atitudes. Só teremos a ganhar.

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