VERGONHA!


… os brasileiros são bestas;

e estão sempre a trabalhar toda a vida,

para manter maganos…*

De pronto, quando chegaram, os invasores proclamaram sua cobiça.

O escrivão remeteu carta ao rei.

Confissão dos objetivos dos recém aportados.

Explorar a exaustão a nova terra:

“Nela, até agora não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro”.

Não chegaram com o nobre sentimento de criar nova sociedade.

O fito um só, explorar.

Há 519 anos as terras do Brasil sofrem devassa.

Violadas à exaustão.

Devastaram  florestas de pau brasil.

Feriram as entranhas das montanhas.

Exauriram negros e brancos nas fainas rurais.

Violaram velhos costumes dos autóctones.

Nada se salvou.

Sob o manto da religiosidade, praticaram grandes infâmias.

Assim, se desenrolaram os ciclos iniciais da exploração desenfreada.

Depois de tanta avareza, havia esperança.

O surgimento do senso de  responsabilidade  na área empresarial.

Os costumes teriam mudado.

O combate a corrupção causara efeitos.

Mero engano.

O capitalismo nacional é primário.

Egoísta.

Falta aqui a ética do trabalho.

Operacionalidade deficiente.

Busca infame do lucro fácil.

Lobby vencendo à vida.

Só com este desabafo, convive-se com a tragédia de Brumadinho.

O total desapreço ao ser humano.

O homem nada importa nestas terras.

Os mortos – contados a centenas – serão facilmente substituídos.

Nada de importar pessoas da África ou da Itália.

Tal como aconteceu no passado.

Agora, as periferias das grandes e pequenas cidades oferecem mão de obra barata.

Com redução na folha de pagamento.

Com ganho econômico.

O ser humano pesa pouco nos custos.

É descartável.

Sociedade, com esta carga de cinismo, só vive frustrações continuas.

Os brasileiros atônitos.

Envergonhados.

Dirigentes de grandes empresas: larápios ou simplesmente perversos.

Assim, não se constrói um capitalismo sadio.

A constatação é inafastável:

A carta do escrivão marcou a consciência de muitos.

Procurar riqueza, sem trabalho.

Explorar a terra até sua morte.

O ser humano?

Este nada vale.

 

 

Referências.

 

 

*   Gregório de Matos ( 1633-1696)

Carta citada (de Pero Vaz de Caminha): in o Caráter nacional brasileiro – Dante Moreira Leite – Pioneira Editora – São Paulo – 1976.

print