BOA LIÇÃO DO NOSSO VIZINHO


Característica dos Incas:

 “no me mande demasiado”*

 

O estudioso brasileiro tem dificuldade em analisar feitos da História dos vizinhos hispano falantes.

Nossa História é linear:

Chegam os conquistadores.

Eles mantêm a posse da terra.

Conquista-se, por meios diplomáticos, os atuais limites nacionais.

Sem delongas, chega-se à independência.

Ato de um príncipe português,  agente do conquistador.

A República proclamada em uma cavalgada, sem participação do povo.

E, assim, se vai ao longo dos séculos.

Nada de atos grandiloquentes.

Tudo muito maneiro.

Nada mais surreal.

O opressor liberta o oprimido.

Nada de grandes batalhas.

Na outra parte do hemisfério, luta e morte.

Os espanhóis defenderam seus interesses a bala e fogo.

Os americanos do sul morreram heroicamente.

Combates por todo o continente.

Nada de acordos.

Tudo na ponta da baioneta.

Mais ainda.

Os espanhóis encontraram civilizações altamente desenvolvidas.

Os maias e os incas possuíam evoluída convivência social.

Caso mais emblemático entre os sul americanos: o Peru.

Os conquistadores encontraram civilização desenvolvida, a inca.

Tiveram que conceber duas repúblicas:

La República de los españoles

e

La República de los índios.

Exatamente isto.

Duas esferas administrativas, com regras autônomas.

Claro, a primeira dominante e a segunda dominada.

As esferas apontam a divisão social criada.

Inúmeras revoltas ocorreram.

Lutas entre criollos – filhos de espanhóis nascidos na América – e os conquistadores.

Emblemático o movimento indígena Túpac Amaru.

Corria o Século XVIII.

Os Túpac Amaru lutaram por trinta e cinco anos.

Foram vencidos.

Até na independência, conflito político.

San Martin libertou parte do Peru, o espaço de Lima.

O outro libertador,Bolívar.

Os dois se encontraram em Guaiquil.

Em uma única ocasião.

Não há registro do diálogo entre os dois libertadores.

San Martin retorna a Lima.

Renúncia ao cargo de Protetor do Peru.

Instala solenemente o Primeiro Congresso Constituinte.

20 de setembro de 1822.

Parte para o Chile.

Bolivar aplica no Peru a chamada Constituição Vitalícia.

Seu nome?

Simples.

Neste documento, concebido para a Bolívia, o mandato presidencial vigia por toda a vida do titular.

Os peruanos rejeitaram a imposição.

Conflito na origem a nacionalidade.

Este vírus permaneceu no organismo social.

Os embates apresentam impressionante continuidade na História do Peru.

Iguais às fases históricas comuns à América Meridional.

República elitista, chamada de República Aristocrática.

Golpes militares ditatoriais.

Outros com objetivos modernizadores.

Direita e esquerda digladiando-se em pugnas violentas.

Movimentos internacionalistas.

Entre estes, vale registro o Aprismo.

Partido Aprista Peruano fundado em 1930.

Com raízes no México desde 1924.

O líder perene do Aprismo:  Victor Raul Haya de la Torre.

O Aprismo **seria a adaptação do marxismo a América de fala espanhola.

Introduziu o léxico da violência na política peruana.

Os comunistas, propriamente ditos, iniciam atividades a partir do congresso internacional de 1929, em Montevideo.

A presença ideológica levou à concepção do Sendero Luminoso, em tempos posteriores.

Guerrilha de feição maoísta.

Desenvolveu-se duro período de luta armada.

Conflito de longo prazo: de 1980 a 1994.

O número de mortos aterrador:

27.769 mortos.

Guerrilha exterminada por Alberto Fujimori.

Hoje, condenado por corrupção.

Com um passado rico em eventos dramáticos, o Peru contemporâneo oferece boas lições de democracia.

Falta atenção de seus pares sul americanos.

Adotou o recall para membros dos executivos municipais.

Utiliza o juízo político para afastar dirigentes.

Convoca referendos para recolher a vontade popular.

Ainda no domingo, dia 9 de dezembro de 2018, a soberania popular foi chamada.

Conheceu quatro questões, a saber:

1.) Aprova a reforma constitucional sobre a conformação e funções da Junta Nacional de Justiça (antes Conselho Nacional da Magistratura)?

2.) Aprova a reforma constitucional que regula o financiamento de organizações partidárias?

3.) Aprova a reforma constitucional que proíbe a reeleição imediata de parlamentares da República?

4.) Aprova a reforma constitucional que estabelece a bicameralidade no Congresso da República?

Respostas populares favoráveis às três primeiras indagações.

Negativa no referente à criação do Senado.

Pode-se discutir o posicionamento dos peruanos.

Ressalte-se, porém, o respeito à soberania popular demonstrada.

Boa lição para Brasília.

Lá tudo se resolve em sessões rápidas.

Com resultados pré-concebidos.

Fala-se muito, hoje, em democracia direta nestas bandas atlânticas.

Não se ouve falar em consultas populares.

Por que?

Medo?

 

 

 

 

Referências:

Herrera, José Tamayo – Nuevo Compendio de Historia del Perú – Editorial Universitaria– Lima – 2013.

Pease G.Y, Franklin – Breve H istoria contemporânea del Perú – Fondo de Cultura Económico – México – 2005.

  • São Juan Martín de Porras, in Herrera acima.

  • Partidos Políticos peruanos:

Ação Popular, Aliança para o progresso, Democracia direta, Força Popular, Partido Aprista Peruano, Somos Peru, Partido Humanista Peruano, Ordem, Partido para o Cambio, Restauração Nacional, Sempre unidos e Solidariedade Nacional.

Em processo de registro: Progresso Nacional e Avança País perante o Jurado Nacional Eleitoral.

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