Julgamentos de ocasião


O entusiasmo e o fanatismo não são condições duráveis*

 

Em tempos de abatimento coletivo, apatia generalizada, alto grau de  indiferença, é bom recordar personalidades que se confrontaram com circunstâncias análogas.

Claro que nada se aproxima ao atual estado de espírito nacional.

Ninguém acredita em ninguém.

A vida pública tornou-se um território inóspito.

Mas, sempre é possível, com alguma concessão, encontrar-se, no passado, figuras exemplares, capazes de se oporem a desmandos de poderosos.

Podem servir de exemplo em uma sociedade carente de personalidades marcantes.

É preciso sair do pântano em que fomos lançados.

Nessa semana finda, mais precisamente no dia 22 de junho, sexta-feira, comemorou-se a figura de Tomás Moro.

Humanista, teólogo e político.Um reformador.

O que o marca sobretudo é a sua capacidade de preservar os valores que considerava superiores.

Não rompeu seus princípios e nem sequer se intimidou perante Henrique VIII, da Inglaterra, de quem era Chanceler.

Tinha uma rígida escala de valores. Não a rompia sequer por determinação de um soberano truculento.

Morreu executado, em Londres, em 6 de julho de 1535, após ser encarcerado e condenado.

Sua condenação ocorreu porque Moro não abdicou de sua fé religiosa e de suas condutas de vida.

Note-se:

O pensador e político foi condenado por um Juízo envolvido pelos designíos do rei.

Quantos julgamentos não ocorrem de mesma maneira no correr dos tempos?

Por vezes, são os poderosos que executam as vítimas.

Outras vezes os clamores de parcelas da opinião pública.

Perigosos são todos os julgamentos de ocasião.

Geram mártires e serão reavaliados após séculos.

Será tarde para o condenado.

Já se encontra morto ou foi encarcerado.

Valerá a figura do injustamente acusado como símbolo do ódio ou interesses de poucos contra alguns ou muitos.

Tomás Moro, neste Brasil de incredulidades, pode fazer pensar.

Caso os brasileiros ainda pensem.

Existem dúvidas a respeito.

 

 

Referências

Volpi, Franco –Enciclopedia de Obras de Filosofia – Herder – Barcelona – 2005.

Truyol y Serra – História da Filosofia do Direito e do Estado – Instituto de Novas Profissões – Lisboa – 1990.

*Joseph de Maistre – Considerzioni sulla Francia – Editora Riuniti – Roma – 1983.

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