O POLÍTICO E A MORTE


A dramaticidade dos acontecimentos ocorridos no último dia 13 de agosto, na cidade de Santos, permite divagações sobre a existência humana e o imponderável.

 

Sete pessoas – ainda em momento ativo de suas vidas – foram pilhadas pela morte de maneira violenta. Sem qualquer possibilidade de um gesto em busca da preservação da vida.

 

As parcas são violentas. Agem sem previsibilidade. Quando tudo parece seguro e administrável, elas surgem e agem com violência sem limites. Impiedosamente.

 

Foi assim na última quarta-feira. Um simples e banal vôo entre duas cidades do litoral do sudeste, de natureza corriqueira, apesar dos riscos inerentes ao campo de pouso do Guarujá, ceifou vidas.

 

A beleza cívica de uma campanha eleitoral, em segundos, transformou-se em tragédia não anunciada. Não foi exceção. Ao contrário, a busca dos objetivos, sem medir riscos à integridade física, é próprio do político.

 

Em sua missão de levar esperança e novas idéias à sociedade, o político, por vezes, sente-se capaz de tudo e de vencer quaisquer desafios, inclusive os impostos pela natureza.

 

Não importa ao político, em campanha, o mau tempo e os riscos inerentes a sua presença. Acredita poder superar quaisquer desafios. Vai em busca do Poder e este, segundo muitos tratadistas, é emanação do divino.

 

Sinto – por experiência própria – a angústia dos integrantes da comitiva de Eduardo Campos em chegar na hora aprazada ao compromisso assumido. Era preciso pousar. A qualquer custo.

 

Aconteceu o imponderável. O avião, máquina sem alma, não respondeu aos anseios de seus ocupantes. Gerou a tragédia. É mais um grupo de abnegados que, em ação política, perdem a vida.

 

Todos os dias os meios de comunicação, com ou sem razão, criticam e verberaram os atos e as ações dos políticos. Apenas apontam os equívocos, jamais expõem os atos de altruísmo.

 

Um ser político – claro com exceções – abandona todos os confortos da vida material e se submete a uma cobrança diária e exaustiva. Tudo é observado. Todos os seus movimentos são registrados.

 

Um político é pessoa sem privacidade ou momentos de tranqüilidade. É sempre exigido. Chamado a todo o instante a resolver conflitos. Situações controvertidas. Questionamentos.

 

Quando ocupa cargo no Executivo, particularmente no sistema presidencialista, torna-se árbitro das mais extravagantes contendas. Os grandes interesses das corporações ou o singelo conflito entre integrantes de seu gabinete.

 

O político, particularmente em uma democracia, é um abnegado. Não poupa sua própria vida na busca do objetivo de servir à comunidade. Dá-se por inteiro.

 

A busca do Poder é um dos sentimentos mais intenso das pessoas. Atingir o Poder – particularmente o Poder político – leva a pessoa às mais inacreditáveis demonstrações de resistência psicológica.

 

Vencem, por vezes, aqueles que desejam atingir os postos de mando. Outras vezes, retiram-se para o ostracismo. Umas poucas vezes perdem a vida em seu intento.

 

Eduardo Campos – e seus companheiros de viagem – arriscaram tudo para cumprir o compromisso aprazado. Não quis o destino que atingissem o objetivo planejando.

 

Deixam o exemplo e ingressam no rol dos azares políticos que, costumeiramente, acontecem com as lideranças brasileiras. Já foram tantos ceifados pelo inesperado.

 

A tragédia leva a refletir, como Sartre, ceticamente: o homem é uma paixão inútil.

print