PANDEMONIUM*


Non ci capisco niente

 

 

Em  época de Copa do Mundo qualquer outro assunto torna-se secundário, especialmente no Brasil.

Há silêncio sobre todos os temas essenciais.

Só se fala e se vê futebol.

É bom que assim seja.

Alguém poderá aproveitar para analisar assuntos essenciais.

Por exemplo, a atuação do Parlamento Nacional.

Sabe-se: grande número de parlamentares aproveita-se do cargo para proveito pessoal.

É prática conhecida, proclamada, e, por vezes, perseguida pelas autoridades competentes.

A sociedade parece passiva.

Pouco importa e tanto faz a existência de corrupção.

Um erro histórico.

Aqui  não se fala de corrupção pecuniária.

Nem sequer na distribuição de cargos, pelos parlamentares, entre apaniguados.

A nossa preocupação é outra.

Mais corriqueira, no entanto essencial em uma democracia.

As práticas de boa educação.

Procure assistir, pela televisão pública, uma sessão do nosso Parlamento.

Da Câmara Federal ou do Senado da República, tanto faz.

É espetáculo digno de censura.

Todos falam enquanto o colega usa a tribuna ou o microfone de plenário.

Os telefones celulares giram entre os dedos e são usados sem qualquer pudor.

Assessores e assessoras, a maioria jovens, entram pelo plenário a dentro.

Falam entre sim ou com os parlamentares.

Uma verdadeira feira livre.

Nenhum ato de civilidade.

O presidente da Casa, seja o Senado ou a Câmara, não está nem aí.

Usa seu celular em plena sessão.

Pouco importa quem seja o orador.

O nosso Parlamento, sem exceção de qualquer comissão ou plenário, é indigno da palavra civilidade.

A civilidade exige a atenção a quem esteja falando, particularmente fazendo um discurso inerente à atividade congressual.

No Parlamento brasileiro vale o falatório.

A conversa fiada.

O dizer sem falar.

O papo entre amigos.

Um grande convescote.

Todos falam e ninguém tem razão.

Para se obter a razão e necessário raciocínio.

Silêncio. Atenção. Reflexão.

É o que falta em Brasília.

Uma lástima.

Péssimo exemplo para o cidadão.

Trata-se de uma corrupção calculada.

Conferem à cidadania o pior legado: a falta de educação.

Além do Regimento Interno, as Casas deveriam oferecer Manuais de Boas Maneiras a seus integrantes.

Educação nunca fez mal a ninguém.

Seria bom que os parlamentares soubessem.

Já que parecem não saber nada.

Nem sequer um pouco de boas maneiras.

 

 

* Pandemonium = palavra criada por Milton, no Paraíso Perdido, para indicar o palácio de Sata (vide: Dicionário Houaiss – Editora Objetiva)

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