PALAVRAS CUSTAM POUCO


Quem acompanha o horário eleitoral, pode recordar ensinamentos de nossos antepassados. Diziam, em suas comédias de costumes, uma frase exemplar: “Palavras custam pouco”.

 

Os candidatos, a todos os cargos eletivos, oferecem um cenário utópico e comovente pela bondade das dádivas apresentadas. Saúde, educação, infaestrutura e até água oferecem no futuro.

 

Não se sabe se é o futuro próximo ou remoto. Pouco importa. Ele, em qualquer hipótese, está distante. Se as promessas serão ou não cumpridas é outro assunto.

 

É empolgante a apresentação do plano de governo de cada candidato à Presidência da República. Os elaboradores falam como se tudo fosse fácil no campo administrativo.

 

Basta a vontade política do eleito e, por um passe de mágica, uma nova realidade surgirá. Ledo engano. A máquina administrativa é cruel. Domina todos os recantos dos serviços públicos.

 

É permanente. Os servidores concursados gozam de regalias que nenhum governante é capaz de alterar. Fazem o que é oportuno, não o que deseja o titular transitório do Poder.

 

É ingênuo afirmar, como fazem alguns assessores dos candidatos, que tudo ocorrerá bem porque o seu escolhido possui dotes diferenciados. Um pouco mais de humildade iria bem nas falas dos auxiliares.

 

Alguns deles se colocam na posição do próprio candidato. Não possuem qualquer censura. Só auto-estima. É uma estranha campanha a em curso. Nunca se viu planos de governo expostos antes da fala do candidato.

 

Ocorre no Brasil, onde a volúpia da palavra encobre as verdadeiras intenções. Fala-se desesperadamente. Pouco importa as conseqüências. Vale aparecer.  E quanto mais, melhor.

 

Se esta é a situação no campo majoritário federal, mais estranha é apresentação dos candidatos aos postos parlamentares. Alguns partidos não tiveram nenhum pudor em apresentar figuras bizarras.

 

Nomes de fantasia que ofendem a mais mediana inteligência. Um achincalhe. Frustra quem imagina ser possível fazer política com decência. Acredita que a política se constitua em uma ação pedagógica.

 

Ao contrário, a atual campanha, após tantos anos de democratização, gera uma profunda angústia nas consciências cívicas dos cidadãos. Muitos lutaram em busca da democracia.

 

Pensavam possível alcançar um porto seguro. Nele os debates seriam elevados. Os figurantes qualificados. O eleitor aprenderia e poderia aquilatar o conteúdo das exposições dos candidatos.

 

Nada disto. Pior que os tempos da chamada Lei Falcão, quando apenas retratos, acompanhados de currículos, eram expostos aos telespectadores.

 

Aprende-se, na presente campanha eleitoral, que é impossível conviver com trinta e dois partidos políticos. Forma-se uma verdadeira pantomima.

 

Um circo com alguns se assemelhando a maus palhaços.

 

É lastimável. Até outubro, a sociedade tem que suportar este sorvedouro de dinheiros públicos. A campanha eleitoral gratuita pelo rádio e pela televisão.

 

Cabe lembrar o Supremo Tribunal Federal que, em má hora, derrubou a cláusula de barreira ou desempenho elaborada pelo Congresso Nacional. Agiu com um purismo exagerado em defesa das minorias.

 

Sacrificou a democracia. Permitiu a prevalência dos maus sobre os mais razoáveis.

 

Uma pena.

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