Amarga realidade


A leitura de um jornal impresso tornou-se ato antropofágico.

Tudo se encontra em escombros.

Nada é positivo em nossa sociedade.

O leitor sente-se devorado após folhear as páginas dos ainda existentes matutinos.

Volta-se aos tempos em que o bispo Sardinha foi deglutido, lá no nordeste, pelos indígenas que, desde então, apreciavam as boas sardinhas portuguesas.

São tradições.

Ironia à parte, a verdade que se tornou insuportável o manusear de nossos cotidianos.

Só más notícias.

Só temas negativos.

Alguém dirá que a imprensa é retrato da sociedade.

A nossa só tem mazelas, estas precisam ser expostas.

É verdade.

Mas, em uma sociedade de mais de duzentos milhões de pessoas, lançada em imenso território, algo de positivo deve ocorrer.

Alguém, neste momento, realiza uma ação meritória.

Uma instituição certamente  age com rigor ético em benefício da coletividade.

Um grupo de pessoas soma esforços para alcançar objetivos beneméritos.

Nada disto, no entanto, é apontado.

Só mazelas.

Apenas os corredores dos palácios brasilienses merecem cobertura.

Na busca de contrair os custos operacionais, os meios de comunicação se centralizaram em Brasília.

O resto não importa.

Apesar dos seus ingentes esforços, as lutas diárias dos brasileiros de todos os rincões é esquecida.

Só valem os maus exemplos dos políticos.

Certamente, até entre eles, deve haver pessoas honestas e operantes.

Não se sabe, porém.

Falha de comunicação ou premeditada ação para levar a sociedade à inanição.

Se todos continuarem a ser atingidos por tantas informações negativas, corre-se o risco de sermos lembrados pelo presidente norte-americano.

Ele costuma qualificar os países de maneira grosseira, porém direta.

A nossa sorte é que Trump não conhece a língua portuguesa.

Caso soubesse o nosso vernáculo, estaria dizendo em bom português, o Brasil é um país shithole.*

Seria uma ofensa gratuita, quem sabe merecida, após a leitura de nossos jornais escritos.

 

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PS.: * palavra de baixo calão. Tradução livre: buraco de merda.

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