LINCHAMENTO MORAL


O cenário eleitoral é tão extravagante. Encobre situações reais da vida cotidiana. Ou, em passe de magia, amplia episódios costumeiros sem qualquer conteúdo de maldade.

 

Em Porto Alegre, uma jovem fanática por seu clube de futebol, no meio de um difícil jogo, lança palavras tolas contra um goleiro. Coisa comum em campos de futebol.

 

Não havia – é só ver a expressão da jovem – intuito agressivo, apenas torcida irracional. No entanto, o episódio – certamente lamentável – foi levado ao extremo pelos meios televisivos de informação.

 

Aqui cabe a pergunta: quem agiu pior? A jovem ingênua e fanatizada pela camisa de seu clube ou os meios de comunicação, que tornaram, uma situação banal nos estádios, em um assunto permanente?

 

Há ainda uma outra face do tema. É razoável transformar uma jovem de vinte anos em figura execrável para toda uma sociedade? Na amplitude da cobertura, seguramente, ocorreu dano moral.

 

Não se pode denegrir a imagem de uma pessoa por um ato impensado praticado no interior de uma arena esportiva, onde todas as liberdades acontecem. Por mais censuráveis que sejam.

 

Agiu mal e muito mal a jovem. Agiram pior muito pior os meios televisivos de comunicação ao expor continuadamente a imagem da jovem por toda a parte e por todo o tempo.

 

Foi um ato inaceitável o praticado pela torcedora. Será analisado e julgado pelo Poder Judiciário. É ilegal e inoportuno. Mas, o linchamento moral, tal como o linchamento físico, não pode ser admitido.

 

A sociedade brasileira está exausta. Já não admite mais equívocos por parte de nenhum ator social. O torcedor fanatizado ou o veículo de comunicação são partes deste todo.

 

Uns não podem ser expostos sem limites e outros não podem se aproveitar de um mau acontecimento para – também sem limites – denegrir a imagem de uma pessoa.

 

Não há limites nas atividades informativas. Os raros códigos éticos dos veículos de informação não são respeitados sequer por seus autores. Um verdadeiro pântano esta presente neste setor importante da sociedade.

 

A liberdade é essencial para o bom desenvolvimento da democracia. A libertinagem fere os valores médios da comunidade. A imagem de uma pessoa – por mais repugnante que sejam seus atos – não pode ser lançada nas telas ilimitadamente.

 

Há parâmetros para a atuação de cada segmento da sociedade. Não podem alguns, sob o pretexto da liberdade, violar a dignidade pessoal de alguém debaixo do manto da livre informação.

 

A jovem de Porto Alegre e o sensível goleiro, sem saber, lançaram luzes para um cenário presente todos os dias nos informativos da televisão. Figuras humanas expostas sem qualquer respeito aos mais elementares princípios de convivência.

 

Defendeu-se uma boa tese – a luta contra o racismo – esqueceu-se a preservação da dignidade da pessoa. A jovem torcedora é – em sua irracionalidade – a demonstração do desamor às pessoas que avançam por todo o País.

 

É preciso dar um basta aos linchamentos morais.

print