OUTUBROS


 

De quem é a comuna?*

 

Outubro perde-se no calendário.

Fica o seu conteúdo histórico.

Grandes acontecimentos aconteceram em muitos outubros.

A América de Colombo ocorreu em outubro.

Na mesma época, na fria Alemanha, um monge proclamava a Reforma Religiosa.

Mudou o Ocidente.

Alterou as práticas políticas.

Acabou com hegemonias. O sacerdócio individual conduziu à autonomia das pessoas.

Foi, ainda, em outubro os primórdios da  mais sangrenta das revoluções.

E, em novembro de 1917, os bolcheviques tomaram o poder na Rússia.

Mais um rei foi morto.

O primeiro em outra revolução, a liberal de 1789.

A revolução soviética é paradoxal.

Matou milhões na várias repúblicas que formavam a antiga União Soviética.

Salvou outros milhões da sanha totalitária dos nazistas.

Hoje, a Revolução Soviética é esquecida pelo governo russo.

Os poucos que procuraram comemorá-la, lá na Rússia, foram encarcerados.

Aqui, nesta terra tropical, onde, ontem, falar de comunismo era crime, tudo se tornou mera efeméride.

Os jornais apontam a data com relevância.

Primeira página.

Ninguém está nem aí.

Comunismo, já era.

Um erro.

A ideia de igualdade persegue a humanidade.

Parece, por vezes, soterrada.

Renasce.

É só aguardar.

A Reforma Religiosa – a outra revolução – encontra-se presente, particularmente no Brasil.

Quem percorre a periferia dos grandes centros urbanos encontrará em todas as partes templos reformados.

Deram outro sentido a vida de muitas pessoas.

Agregaram migrantes vindos de longe.

Os templos evangélicos, na simplicidade reformada, indicam novos caminhos para a sociedade.

Sem absolutismo ou centralismo.

Uma sociedade múltipla que poderá levar a pontos mais altos de convivência.

Ou a sua plena atomização.

Só o futuro dirá.

É preciso aguardar muitos outros outubros para saber.

A certeza, mudanças sociais ocorrerão.

 

 

Referência.

Engels, Friedrich – Da autoridade, cit. in O Estado e a Revolução – Vladímir Ilictch Lênin – Boitempo – São Paulo – 2017

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