DEMAGOGOS


Demagogo: agitador sem princípios*

 

 

Após muitos anos, entre livros, encontrei um precioso e pequeno exemplar denominado Demagogia*.

Seu autor, Luciano Canfora, segundo editores da cidade de Palermo, é grecista** e  historiador do pensamento político.

Afirma o Canfora que a primeira indicação do termo demagogia se encontra em comédia de Aristofone denominada Cavaleiros.

Foi a peça representada no ano 424 a.C..

Contudo, ainda antes, a palavra se apresenta em obra de Tucidide que trata de um demagogo.

Androcle , um expoente democrático, é morto por sicários oligárquicos.

Corre o ano de 411 a.C..

Aqui, o primeiro registro importante.

O demagogo – o democrata morto, no caso – não é sinônimo de mau elemento.

É aquele que dirige o povo***.

O próprio Aristofane adverte:

 

As vezes o guia do povo (demagogo) não é mais uma pessoa bem educada e para o bem, acaba a liderança em mãos de ignorantes malandros.”

Aqui começa, pois, a deformação do conteúdo da palavra demagogo.

Passa o demagogo, ainda na Grécia clássica, a ser o titular de uma voz repugnante, de origem baixa, vulgar que usa tudo isto para fazer política.

Assim a demagogia caminha das pessoas bem educadas para os ignorantes e malandros.

Aristóteles, em sua Constituição de Atenas,  ensina a evolução:

 

No princípio eram pessoas para o bem que faziam demagogia…”

Com o evoluir do tempo, portanto, a arte da demagogia cai na posse dos maus e estes deformam as maneiras de fazer Política.

Passam a se utilizar da Política para finalidades espúrias.

É uma visão progressiva de decadência.

O estilo de fazer Política muda sempre para pior, segundo os autores gregos clássicos.

Os demagogos seduzem o corpo cívico dando-lhe uma ilusão de autonomia.

O que diriam hoje os pensadores de ontem.

A demagogia é avassaladora na contemporaneidade.

Nenhuma sociedade moderna se encontra livre dos demagogos, os que usam de maneira deformada o discurso político.

Eles se espalham por toda a Terra.

Não há sociedade livre deste mal.

A demagogia avançou sobre os povos ditos evoluídos e dominou os referidos como atrasados.

O Brasil  encontra-se tomado pela praga da demagogia.

À direita e à esquerda, passando pelo centro, demagogos inflamam as consciências e distraem o povo com promessas mirabolantes.

Apontam reformas legais como o caminho para futuro radiante.

É de rir se não fosse dramático.

Falam empolado e, com palavreado incompreensível, aparecem como detentores de toda a sabedoria da humanidade.

Como é difícil distinguir o pior.

Será o demagogo de direita ou aquele de esquerda?

Todos são iguais.

Prometem o inatingível e enquanto isto avançam, com desfaçatez, sobre o erário público.

Introduzem-se na contabilidade de empresários ladinos.

Estes – os empresários – transformaram-se em autênticos demagogos.

Basta assistir ou ler as colaborações premiadas recolhidas na Lava Jato.

Todos demagogos sem caráter, nestas terras tropicais.

Os velhos gregos captaram, em uma pequena comunidade, os males produzidos pelo demagogo em sua acepção negativa.

Estariam perplexo com o grau de demagogia  atingido na contemporaneidade.

No Brasil, foi-se ao ápice.

São demagogos os políticos e seus asseclas, aqueles empresários que, em Curitiba, descaradamente descrevem seus crimes.

Haja coragem para sobreviver a estes demagogos.

Da política e do capital.

Aves de rapina.

Furtam o erário público e a consciência da cidadania.

 

Referências:

* Canfora, Luciano – Demagogia – Sellerio editore Palermo, 1993.

** Enciclopédia Britânica – apud Demagogia, obra citada.

*** grecista – palavra italiana sem tradução para o português – quem estuda a língua e literatura grega

( Il Nuovo Zingarelli minore – Vocabulario dela Lingua Italiana)

*** Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea – Academia das Ciências de Lisboa – Verbo – 2001

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