DEGRADAÇÃO


 

 

… reduziram o Estado a um cadáver.”*

 

 

Desde tempos longínquos,  pensadores  procuraram criar fórmulas de governo e estruturação do Estado.

Chegaram a quase perfeição com os trabalhos de autores ingleses e franceses.

Debruçaram-se sobre as práticas políticas e as insídias dos governantes no pensamento italiano.

Conceberam a ideia de democracia.

Buscaram a igualdade entre as pessoas.

Todo este caminhar transforma-se em pesadelo, quando se atinge as colaborações premiadas recolhidas em Curitiba.

De pronto, uma  conclusão é obtida.

O pensamento político ocidental não alcançou expressão nestas terras brasileiras.

Tudo exorbita.

Tudo foge a cânones estabelecidos.

Por exemplo, o neoliberalismo atingiu, por aqui, estágio jamais imaginado por nenhum defensor deste ideário.

Simples.

Não privatizaram apenas áreas específicas da Economia.

Privatizaram a República por inteiro.

Com ajuda de determinados políticos, empresário assenhorou-se do Estado.

Administradores públicos operaram de acordo com a vontade e o interesse de grupo empresarial.

Nenhum pudor.

Ministros obedeciam a diretores de primeiro e segundo escalão de determinada empreiteira.

Elaboravam leis com objetivos particulares.

Nada de interesse público.

Sempre a prevalência do privado.

O estudioso não encontrará em nenhuma latitude – nem sequer em governos absolutistas – situação como a presente em Brasília.

A eloquente imagem do governo do povo para o povo torna-se ridícula no Planalto.

Criaram, entre nós, o governo de alguns para uns poucos.

A máquina pública está corrompida em suas entranhas.

As personalidades políticas descaracterizadas.

A República é uma farsa.

Um teatro do absurdo de mau enredo.

Sequer esperança subsiste.

Perdeu-se a compostura.

Violou-se os mais comezinhos princípios do comportamento civil.

Agiram em vão os doutrinadores.

Todas as criações teóricas ruíram.

Restou o cinismo.

A impostura.

O deboche.

O escarnio.

Morre-se de vergonha na terra de Canaã.**

Tudo dana-se e se corrompe, como alertou o historiador setecentista***.

Como sair deste túnel de escuridão plena?

A curto prazo é pergunta sem resposta.

Nada de mudanças institucionais de ocasião.

Só há um refúgio.

A salvação pela democracia.

Esta sem marqueteiros e oportunistas.

Democracia apenas gerada por aspirações legítimas e profundas da sociedade.

Aprendeu-se, a duras penas, que não existem taumaturgos salvadores.

Estes sempre geram tragédias: econômicas e morais.

O caso nacional é exemplar.

Um grande País, por ação de uns poucos, atingiu  patética degradação moral.

Uma gangrena cívica invadiu o organismo nacional.

Só o pleno exercício democracia pode reanimar à Nação enferma.

Não há outro remédio.

Proporcionada pela democracia, a transparência pode nos salvar.

 

 

 

Referências:

Andrade e Silva, José Bonifácio de – Projetos para o Brasil – Companhia das Letras – São Paulo -1998

Salvador, Frei Vicente do – Historia do Brasil – 1500-1627 – Edições Melhoramentos – São Paulo -1965

Graça Aranha – Canaã – Garnier – Rio de Janeiro – 1902

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