POBRE BRASIL!


miseriaLasciate ogni speranza,voi ch‘entrate! *

 

Quem percorre, como um singelo pedestre, os centros históricos das cidades brasileiras sente toda a extensão do drama.

A pobreza – muitas vezes a miséria – estende-se pelas calçadas e reentrâncias das edificações.

Há um clima de derrota na face das pessoas.

Lojas fechadas.

Vazias e com escassez de produtos. Poucas ainda abertas.

O cenário assemelha-se a de um ambiente após uma conflagração.

Tudo sujo.

Empobrecido.

Descuidado.

A dramaticidade humana une-se a da paisagem urbana.

Perdeu-se o rumo.

O Brasil encontra-se fragilizado.

Esta fraqueza não é apenas física.

É também moral.

Quando as páginas dos jornais estampam  pedidos de desculpas de empresários corruptos, a cidadania fica perplexa.

Como pode uma sociedade conviver com tanto cinismo?

É oportuno o instituto da leniência.

É superlativo, porém, a utilização de uma falsa moralidade.

O silêncio seria melhor.

Apenas o registro do acordo entre a empresa e as autoridades.

A sociedade esta farta de falsidades.

Cansou-se da forma clássica de fazer política.

Do fraseado oco.

Durante quinhentos anos, o pecador confessava-se.

Era perdoado, mediante a oferta de óbolos.

Chega.

Já não há espaço para posições devassas, particularmente com o dinheiro público.

A liberdade de comunicação – exercida pelos meios tradicionais e pelas novas formas eletrônicas – tornou as pessoas exigentes.

Não aceitam a falsidade.

O cinismo como forma de expressão.

As observações valem para os ocupantes dos três Poderes da República.

O Judiciário deve deixar as velhas fórmulas escolásticas de exposição do pensamento.

O Executivo necessita se capacitar para a realidade da economia nacional.

O Legislativo aprender a conviver com o novo mundo e deixar de lado o discurso sem oração principal.

E, dentro desta pobreza intelectual, as instituições que ampliaram seus espaços  – Ministério Público e Polícia Federal – precisam entender que toda atividade tem limites.

Por mais bem intencionadas que sejam suas ações, precisam entender que existem parâmetros de atuação.

A Constituição, em seu interior, no artigo 5º, indica direitos a serem preservados.

Quando estes são violados, cria-se clima para uma escalada de violências contra a pessoa.

Triste é o quadro.

As cidades empobrecidas.

As instituições fragilizadas.

Os agentes operando como se não houvesse limites.

Todos estes elementos – melancólicos – fazem prever um 2017 repleto de percalços.

Resta uma sugestão.

Importante que parlamentares, magistrados, membros do Ministério Público, integrantes dos Poder Executivo, nos três níveis federados, deixassem seus gabinetes.

Corressem as ruas de suas cidades de origem, sem seguranças ou escolta.

Vissem a realidade.

Tivessem olhos de ver.

Chega de avestruzes instalados em Brasília e outras partes deste Brasil em frangalhos.

É insuportável viver em um País sem ética.

O retrato da alma nacional esta registrado nos centros históricos de nossas cidades.

A pobreza venceu a jactância.

A permanecer a situação atual, amanhã será ainda pior.

É só aguardar.

 

 

 

* Dante, Inferno, canto III, verso 9 – Inscrição sobre a porta do Inferno:

“Deixai, vós que entrais todas as esperanças!”

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