APRENDER COM A HISTÓRIA


Há episódios da História brasileira deturpados por muitos autores, particularmente, os contemporâneos dos acontecimentos.

Esta afirmação vale para o presente e muito mais para o passado. Os republicanos, por exemplo, desejaram criar grandes figuras nacionais.

Buscavam edificar a nacionalidade e, de acordo  com o pensamento da época, era preciso criar heróis.

São inúmeras as figuras que podem ser inseridas neste contexto. Felizmente, nos últimos anos a historiografia avançou.

Passou a tratar os grandes nomes da História de conformidade com sua verdadeira estatura. A realidade vem surgindo intensamente.

Dentro desta visão, coloca-se o livro de Angela Alonso, intitulado “Flores, votos e balas”, que aponta a verdadeira dimensão do movimento abolicionista.

A leitura desta obra fixa com perfeição os  verdadeiros artífices da dramática luta contra a escravidão.

Foram inicialmente muito poucos. As oligarquias rurais dominavam a cena política. O parlamento representava os interesses agrários.

Este fato tornava inócua qualquer possibilidade de romper a barragem conservadora no parlamento. Louve-se o José Maria da Silva Paranhos (1819-80) que, apesar de conservador, conseguiu a aprovação da Lei do Ventre Livre, em 1871.

Foi um grande esforço. Aplicaram-se todas as artimanhas regimentais para que o texto fosse aprovado, apesar do seu pouco reflexo sobre o dramático cenário da escravidão.

A luta – face a posição ultrarreacionária do Parlamento – deslocou-se para as ruas das maiores cidades da época. Claro que o Rio de Janeiro foi essencial na campanha.

Algumas figuras precisam ser registradas com nitidez: Rebouças, Patrocínio, Nabuco e o incansável rábula Luiz Gama, recentemente homenageado por sua inscrição, post mortem, na Ordem dos Advogados, Secção de São Paulo.

Patrocínio possuía um jornal, A Gazeta da Tarde.  Foi incansável na organização de eventos cívicos.

Rebouças um professor qualificado e com grande trânsito na corte. Era engenheiro renomado.

Joaquim Nabuco, culto e nobre, agiu particularmente no exterior e, aqui, nos momentos finais do movimento, mostrou-se fundamental na aprovação da chamada Lei Áurea.

Aqui cabe uma rápida análise da personalidade da sancionadora do diploma da libertação:

A princesa Izabel foi sempre titubeante perante o tema da escravidão.

Cercada por sacerdotes e artistas abstinha-se da leitura da realidade brasileira.

Petrópolis, onde costumeiramente vivia, era oásis de tranquilidade em País corroído pela pobreza e pela ignóbil presença da escravidão.

Só assinou a Lei Áurea porque seus filhos lançaram um pequeno jornal a favor da abolição. Esta fato a teria sensibilizado. Somou-se o episódio aos diálogos com Rebouças.

Importante retornar à figura de Luiz Gonzaga Pinto da Gama (1830-1882). Ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo. Não se formou. Mas, como rábula iniciou uma competente batalha judicial em prol da libertação individual de escravos.

Criou jurisprudência e demonstrou um dinamismo impressionante em seu labor. Um verdadeiro baluarte das lutas pelo Direito.

A Igreja Católica – ao contrário dos religiosos norte-americanos- sempre desejou a preservação da escravatura. Era uma grande proprietária de escravos.

Lições emanam das lutas abolicionistas:

A primeira é a importância da presença dos inconformados nas ruas e praças das cidades.

A segunda lição é a necessidade da perseverança na busca do objetivo.

A terceira é o valor das lideranças destemidas.

O movimento abolicionista – como demonstra Angela Alonso em seu livro – envolveu povo.

Emerge como conquista popular.

É lição para os contemporâneos.

E, entre as coletividades que merecem registro, cabe apontar a Província do Ceará como a primeira do Brasil a proclamar a liberdade de todos os brasileiros.

Santos, no Estado São Paulo, merece registro especial. Tornou-se território livre para receber os fugitivos de outras regiões.

O melancólico, após a análise de todos os acontecimentos em torno da Lei Áurea, é se constatar que o Brasil foi o último País a se libertar da escravatura.

O conservadorismo é traço marcante de nossa sociedade.

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