PÂNICO MORAL


A prestigiosa editora da Unesp publicou preciosa obra do sociólogo inglês Anthony Giddens, autor de conhecido tratado de Sociologia editado, em língua portuguesa, pela Fundação Calouste Gulbenkian de Lisboa.

Na obra há pouco exibida pela Unesp –Conceitos essenciais da Sociologia – encontra-se verbete especialmente digno de leitura, de maneira particular, após os últimos acontecimentos políticos.

Estudiosos do Reino Unido acompanharam o comportamento de grupo de jovens na cidade litorânea de Clacton, em 1964.

Naquela cidade ocorreram conflitos entre jovens, assistidos por investigadores sociais. No dia seguinte, lançaram-se os pesquisadores à leitura das notícias nos jornais.

Tiveram profunda surpresa. O que haviam visto e recolhido era inteiramente diverso do exposto nas notícias publicadas.

Os jovens tornaram-se o bode expiatório de problemas sociais maiores, graças a ampliação dos fatos e do respectivo ”etiquetamento”.

Estudos posteriores, segundo o mesmo autor, dirigidos a imigrantes, consumo de drogas e muitos outros temas ocorreram.

Sempre se constatou a ampliação dos fatos e a disseminação deste tipo de ação pelos meios de comunicação.

Aponta Giddens ““pânico moral” segue um padrão típico. Começa quando algo ou algum grupo é identificado como uma ameaça aos valores morais comuns.

 A ameaça é, então exagerada e simplificada na mídia de massa, sensibilizando o público para o problema e intensificando as preocupações”.

Prossegue o sociólogo “isso por sua vez, resulta em clamores de “algo tem de ser feito”.

Aí ocorre a intervenção, muitas vezes descabida, dos Poderes constituídos.

Basta um instante de reflexão e se captar algo que pode servir para análise dos últimos acontecimentos políticos brasileiros.

O pânico moral – no espaço político – aconteceu.

Qualquer semelhança – com o exposto por Giddens – é mera coincidência.

print