O ASNO DE BURIDAN


Nos antigos manuais de filosofia, encontra-se uma historieta singular. Corriam os anos de 1300 em Paris.

Um professor – Buridan – ensinava a seus discípulos a dificuldade que os seres vivos tem para optar entre duas posições.

Eram os tempos em que a escolástica dominava as mentes e os entrechoques religiosos eram constantes.

Discutia-se – e muito – sobre nominalismo e as universais. Ou seja, segundo os nominalistas as coisas existem por si mesmo.

Não há uma humanidade, mas, segundo esta corrente, homens individualizados. Não há, por exemplo, o “branco” como cor universal. Apenas existem objetos brancos.

Hoje o tema pode parecer sem importância, mas à época – plena Idade Média – filosofia e teologia andavam irmanadas.

E a polêmica conduziu, a partir do debate ocorrido, à análise da Santíssima Trindade. Um Deus uno em uma entidade trina.

Não importa, porém, nos dias de hoje, com a mesma importância daquela época o tema em si.

Vale, contudo, pela demonstração exposta por Buridan.

Ele queria provar as dificuldades do exercício do livre arbítrio pelas pessoas. A escolha entre o nominalismo e as universais.

Imaginou um asno faminto e sedento. À mesma distância do animal foram colocados feno e água. O animal – sem saber escolher entre as duas substâncias – morreu de fome.

Buridan escreveu sua demonstração na busca de informar a seus discípulos sobre a fragilidade cognitiva para se fazer escolhas.

Valeu sua aula para os seus discípulos do Século XIV. Se Buridan estivesse em Brasília, em pleno Século XXI, constataria que os políticos brasileiros não se constrangem em utilizar o livre arbítrio.

Vão para todos os lados, sem qualquer pudor. Na Capital Federal, ninguém morre de fome. Tomam água e comem feno.

E, ainda, mamam nas tetas do Tesouro Nacional.

O Ocidente perdeu sua filosofia e seus valores ao ser confrontar com os trópicos.

Viva o livre arbítrio !

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