Há um fio invisível vinculando os atos humanos através dos tempos. Nada é absolutamente novo. Tudo se prende ao passado. Este, já disse alguém, nem Deus muda.

Os acontecimentos da última semana, em Bruxelas, são o melhor reflexo da continuidade do processo histórico, apesar de eventuais aparências em contrário.

O Reino Unido retirou-se das negociações dirigidas por Alemanha e França. Não podia agir diferentemente. A submissão da Inglaterra a governos do continente sempre foi tentada.

A Ilha resistiu em todas as ocasiões com bravura e fortes apoio de situações inusitadas. Temporais destruíram a frota espanhola, quando imaginaram submeter os ingleses.

A bravura manteve o moral dos habitantes do Reino Unido na última Grande Guerra, quando as bombas alemãs atingiram Londres e transformaram a cidade em ruínas.

Estes fatos, principalmente as bombas lançadas sobre o território insular, jamais foram esquecidos pelos ingleses, sempre ciosos de sua soberania. As névoas do passado voltaram, agora, a envolver a consciência inglesa.

Cameron, o primeiro ministro do Reino Unido, não podia abrir parcela da soberania do seu Estado em favor dos vinte e sete integrantes da chamada União Europeia.

Seria a capitulação – jamais aceita – ao poder alemão e aos seus aliados de ocasião: os franceses. A Alemanha submeteu a França na última guerra. Voltou a fazê-lo agora novamente.

Tudo o que ocorre, na Europa, nestes últimos meses, parece a repetição de velhos e desgastados enredos de política internacional. Alguns países centrais querendo submeter todos os demais Estados.

A Inglaterra, de acordo com suas fortes tradições, não podia abdicar os valores de sua história e, muito menos, conceder parcela de sua soberania a uma Europa irresponsável.

Os banqueiros de Londres possuem uma secular ação operacional em todos os pontos do Planeta. Financiaram guerras de independência. Apoiaram movimentos políticos em diversas partes.

Possuem sensibilidade e grande capacidade de antever o futuro. Notaram que a chamada União Europeia conta com muitos obstáculos para se firmar. É composta por povos com identidades nacionais muito distintas.

Os costumes, as línguas e, muitas vezes, as religiões são diversas. Prometeram seus dirigentes, na última noite de sexta feira, reduzir a soberania de seus Estados em favor de organismos financeiros.

Parece fácil. No entanto, esqueceram os chefes de Estado, reunidos em Bruxelas, a existência de povos distintos em cada um dos Estados nacionais. Estes não foram ouvidos. Poderão criar uma situação de tensão contínua.

As Constituições nacionais precisarão ser alteradas para consignar instrumentos de natureza fiscal. Os brasileiros, convivendo em uma federação estável, tiveram grande dificuldade para encarar a responsabilidade fiscal.

Terão os europeus dos diversos Estados nacionais desejo de alterar seus costumes e usos em prol dos valores germânicos e de seus interlocutores franceses?

Não parece tão simples. Os meses que se sucederão até março – quando os europeus voltarão a se reunir – serão altamente tensos de situações novas e extravagantes.

Quanto mais se observa o panorama, à distância, mais se podem observar nuvens no horizonte. São verdadeiros temporais. Tsumanis econômicos capazes de varrer as melhores intenções para longe.

A atitude inglesa é altamente compreensível. A Inglaterra sempre se mostrou ciosa de suas prerrogativas. Não ia se submeter à vontade de uma prussiana e de seu companheiro gaulês.

Acompanhar o desenvolvimento dos futuros atos europeus é altamente pedagógico. Todos os povos aprendem com o erro dos demais. É hora de se agir com cautela.

O Brasil foi exigido a ingressar em acordos econômicos internacionais há poucos anos. Resistiu bravamente. Manteve-se soberano e com autonomia para agir em assuntos econômicos. Acertou.