2010 COMEÇOU


Terminou o Carnaval. Repetiram-se as cenas de sempre. A seriedade das escolas de samba, soberbas em suas organizações. A alegria espontânea dos blocos populares. A atmosfera contagiante do calor tropical.

Sobram imagens autênticas e ricas de significação. O Carnaval representa explosão coletiva. Agrega etnias. Afasta dogmas. Soma pessoas. Há carnavais por muitas partes do mundo. O brasileiro tem ritmo peculiar.

Como todos os anos, alguns procuraram se aproveitar dos festejos para aparecer. Artistas estrangeiros em final de carreira ou figuras nacionais manipuladas por publicitários.

O consumismo aproveita-se de tudo para vender. Recolhe imagens de guerrilheiros. Transforma jogadores vencidos em vendedores de produtos de duvidosa qualidade.

Vale tudo. E, terminado este vale tudo, começa o período nefasto do ano. O adjetivo é usado aqui com seu significado lato. Os dias em que se trabalha são nefastos em antagonismo aos faustos, ou seja, os festivos.

Um ano qualificado. Eleições serão disputadas. A escolha de integrantes do Executivo e dos parlamentos é tarefa complexa e repleta de significado. Operação cívica de importância singular.

A cidadania está preparada para votar. Encontra-se informada, anos de democracia aprimoram a sensibilidade do cidadão. Ele passa a discernir entre o bem e o mal.

Podem se verificar exceções, porém, em um eleitorado da proporção do brasileiro, estas nada significam. Não distorcem a verdade imposta pela maioria. Só os maus intencionados dizem o contrário.

Se a cidadania se encontra apta a exercer seu dever cívico, o que ainda se encontra deformado na democracia brasileira? Primeiro: muitos se filiam aos partidos por motivos pessoais e egoísticos. Segundo: os partidos políticos.

Estes, os partidos, na ânsia de angariar votos, inscrevem em seus quadros o populista de ocasião, conferindo-lhe a possibilidade de concorrer nos pleitos e captar o voto cidadão.

A consequência é o surgimento de parlamentos que mais se parecem com picadeiros e menos como lugar solene de escolha de opções para a sociedade. Tudo, por vezes, torna-se um circo de péssima qualidade.

Os dirigentes partidários têm grande parcela de culpa nas mazelas existentes em nossa política. Outras sociedades também sofrem de idêntica moléstia. Não procuram qualificar os quadros partidários.

Ao contrário, desejam apenas manter fatias de poder, sem a menor preocupação com a qualidade dos atos dos filiados à agremiação. Os jornais, as rádios e a televisão apontam para esta realidade.

O que se lê e vê? Escândalos lastimáveis. Um governador, guardião dos interesses públicos, trancafiado em instalações policiais. O seu partido o cooptou entre trânsfugas.

Os quadros não se formam ao longo do tempo. São recolhidos em rede lançada indiscriminadamente. Caiu na rede é quadro partidário. Não importa seus anteriores pecados e pecadilhos.

Tudo se perdoa em busca de usufruir o poder. Valem os episódios como lição a todos os partidos. Aqueles que foram pegos com a boca na botija ou os ardilosos que escaparam à humilhação pública.

É espetáculo triste. Os de vida ilibada são afastados. Perturbam o desenvolvimento das negociatas. Nas convenções partidárias, esquecidos. Sequer ouvidos.

Incomodam e muito. Quando, por circunstâncias fora de controle, os honestos chegam ao poder, são tratados com hostilidade pelos negocistas. Não podem falar ou pensar por conta própria.

São logo advertidos: ao deixarem o poder serão esperados na curva da estrada. Exterminados. Colocação digna de chefe de gang.

É assim. O panorama político só se alterará com a introdução de mudanças na legislação partidária. A cláusula de barreira é indispensável. A filiação por meio da Justiça Eleitoral fundamental.

A rotatividade, nos cargos partidários, imposição. As denominações das agremiações respeitadas. A história não pode ser marginalizada por imposições externas ou locais.

A democracia, conquistada com tantos sacrifícios, não deve sofrer desgastes morais contínuos. Hoje, os conservadores, ontem os socialistas, amanhã outros segmentos.

Felizmente, a sociedade, mais atilada que os políticos, sabe que todas as mazelas são circunscritas a pequenos espaços. A democracia – como regime de liberdade e transparência – é respeitada pela maioria.

Esta maioria poderá, no próximo pleito, realizar o grande expurgo. Ao escolher, nas listas partidárias os candidatos de reputação ilibada e conhecimentos técnicos reconhecidos.

Será mais um passo para a firmação democrática no País.

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