2008: ANO DE MUITAS COMEMORAÇÕES


Quem gosta de comemorar, vai encontrar motivo de sobra. Datas significativas marcarão o curso do calendário de 2008. Todas importantes para a formação histórica do Brasil. Nenhuma deve merecer esquecimento.

Elas se encontram distribuídas pelo calendário. Quanto ao conteúdo e ao significado, no entanto, situam-se prioritariamente no campo político. Ou mais precisamente, no de raiz.

As pessoas se acostumaram a chamar de música de raiz aquela ligada às tradições de cada região. Nasceu o termo espontaneamente. Nos mais profundos rincões.

Cabe, agora, transplantá-lo. Recolher as várias etapas da História. Aí se terá a história de raiz, aquela que permite conhecer a formação da sociedade nativa e de suas instituições.

O objetivo possui um ar romântico e traços ingênuos. Pouco importa. Conhecer a História do Brasil é indispensável. Quem não a conhece jamais exercerá com vibração os atributos da cidadania.

Quais as datas fundamentais registradas no decorrer de 2008? Muitas. A primeira refere-se à chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil. Um momento singular. A única corte européia a se instalar em um país tropical.

Chegaram no dia 21 de janeiro em Salvador da Bahia, onde a abertura dos portos brasileiros foi decretada. O Brasil globalizava-se. Deixava de receber tratamento colonial. No Rio de Janeiro, porto seguinte, a instalação permanente da Corte.

Nos anos que se seguiram, lançaram-se os fundamentos para a formação do futuro estado nacional brasileiro. Uma nação, no entanto, não se forma com a mera implantação de sua arquitetura administrativa.

Ela se concebe a partir das pessoas que a integram. Todas elas. Entre essas, algumas se sobressaem. Atingem níveis superiores de respeitabilidade. A segunda grande efeméride do ano liga-se a um escritor marcante.

Em fevereiro, exatamente no dia seis, no ano de 1608, um pregador jesuíta nascia, Antônio Vieira. No seu estilo barroco e na sua vontade política deu exemplos de abnegação e pertinácia. Filho de mãe africana e pai cristão novo, defendeu os excluídos e conviveu com os poderosos.

Machado de Assis, um típico brasileiro urbano, morreu em 1908. Viveu sobriamente com soldos de funcionário público. Registrou, por sua pena, momentos marcantes da política do Império e, com menos intensidade, da República.

Captou com maestria as maneiras de agir da sociedade de seu tempo. Elas se lançam até os dias contemporâneos. Registrou a queda do Império com traços irônicos e reflexo da alma nacional.

Trabalhadores colocavam, no centro do Rio de Janeiro, a placa fronteiriça a um estabelecimento: Confeitaria do Império. Alguém passa e recorda a queda da monarquia. Pronta a resposta. Nova placa: Confeitaria da República.

Passaram-se cem anos da data da morte de Machado de Assis. A cena pública brasileira continua idêntica. Apenas são substituídas as placas. Vale tudo para a preservação dos espaços. O conteúdo pouco importa.

Continua o ano de 2008 a arrolar datas significativas. Há quase vinte anos os brasileiros conheceram uma nova Constituição, diferente de todas as anteriores.

Os documentos constitucionais, nestes trópicos, sempre conheceram elaboração por grupos restritos de iluminados. A participação popular marginalizada. Desconhecida. Relegada.

Em outubro de 1988, exatamente no dia cinco, a promulgação da Constituição em vigor apontou para um fato inédito. Toda a sociedade participou ativamente dos trabalhos constituintes.

Ninguém sentiu-se alijado. As etnias contribuíram com seus sentimentos. As religiões com suas crenças. Os trabalhadores com suas reivindicações. Os empresários com o necessário sentimento de proteção do capital.

Hoje, decorridas duas décadas, os tribunais aproximam o texto constitucional das situações existentes e podem, assim, elaborar renovadas interpretações, de acordo com o momento presente.

A complexidade do texto constitucional é amplamente compensada com a possibilidade de se acomodar às novas situações por meio dos trabalhos jurisidicionais. Um avanço. Grande avanço.

2008 aponta também para o amanhã. Em outubro, festa democrática. Em todos os municípios brasileiros, acontecerão eleições. Prefeitos e vereadores serão escolhidos.

É bom lançar os olhos sobre os políticos locais e suas práticas. Depois escolher bem e votar. Arrependimentos tardios são onerosos para os cofres públicos e enfraquecem a cidadania.

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